MINHAS ARTES

 
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RIMAS PARA MÃE

 

Estamos no mês de maio... conhecido como o mês das noivas, mas também é o mês das Mães... mês da MULHER MAIS QUERIDA... E como tal, não posso deixar de aproveitar para promover uma homenagem a minha QUERIDA MÃEZINHA e a todas GRANDES BALUARTES.

 

Dizem ser um privilégio ter a Mãe ao lado. Sem dúvida, a qualquer momento o filho distinguido poderá beijá-la... abraçá-la... e o mais importante:  ter aquele carinho especial, que só as Mães sabem dar... e, à hora que quiser... Porém, creio eu que na era da informática, a distância não é mais empecilho para que a Mãe fique longe do filho... basta apenas um clique e, mesmo sem a presença física, com certeza, o sentimento do amor é reavivado pelas resoluções eletrônicas... e a saudade é, de imediato, minimizada... Então, o filho não deixa de ter o privilégio tão falado. 

Contudo, quando a Mãezinha da gente já partiu para o além, só nos conforta saber que ela está bem ao ladinho do Criador dos Mundos, recebendo todos os carinhos dos anjos que as acompanham, como se filhos fossem... porque, todas as Mães têm os seus lugares reservados no Céu, ao lado de Deus.

Embora, minha mãezinha já esteja lá no céu há um bom pedaço de tempo, eu me considero um Privilegiado, pois, eu continuo com ela ao meu lado... e a hora que eu quero tenho o seu carinho, a sua palavra amiga, o seu conselho e tudo mais que a Mãe nos dá... e, por vezes, a nossa  conversa vai  longe...

É que eu tenho, guardado comigo, o caderno em que ela escrevia as suas poesias e as suas crônicas... o relicário em que ela conseguia transmutar as tristezas experimentadas em instantes de transformação... em que ela traduzia as alegrias vividas em imensuráveis momentos de felicidade... e, então, eu aproveito a transcrição dos seus pensamentos, dos seus devaneios e de suas meditações, e me vejo em meio às nossas intimidades... aos carinhos, aos choros  às travessuras... muitas vezes, eu a percebo zangada,  mas, de imediato, suas zangas se esvaem nos perdões que me são dados... e eu continuo a receber os seus ensinamentos...

E como o aconchego que minha Mãe me dá sempre foi incomensurável, nesse caderno, ela colou na contra capa o seu retrato... o retrato que eu desenhei quando tinha mais ou menos doze anos... com certeza, ela o postou ali, por esse desenho resumir um dos momentos mais lindos que passamos juntos, num Dia das Mães.

Assim, sinto-me prazeroso em contar o motivo que deu ensejo a feitura do desenho e como tudo aconteceu no Dia das Mães de 1949...  

Como estamos bem próximo a essa data tão relevante, quero aproveitar para prestar a minha Homenagem a  Mamãe... e, ao mesmo tempo, transmitir o meu Preito a todas as Mães.

 

RIMAS PARA MÃE.

 

Num “Dia das Mães”, eu havia pensado

Em dar a minha mãezinha, um lindo presente...

Como era criança, não tinha um só trocado,

Mas, eu queria deixá-la muito contente.

 

Pus-me então a fazer um cartão bem legal,

Com motivos que lembrassem aquele dia...

Seu retrato desenhado na lateral

E, no centro, escrita uma linda poesia.

 

No entanto, na minha infantil ingenuidade,

Jamais podia imaginar que o meu esquema,

Buscando dar à minha Mãe, felicidade,

Fosse se transformar no mais cruel dilema.

 

Feito o desenho, inspirei-me na poesia,

Mas, foi muito grande a minha decepção...

Mãe, não tem rima!. Gritei com certa agonia.

Como é que eu vou terminar o meu cartão?

 

Inventei novas palavras, criei fonemas,

Cheguei mesmo a usar figuras de linguagem...

Tudo dava errado e ampliava os meus problemas...

Aí, pensei na minha Mãe, sem homenagem.

 

Cabisbaixo... senti-me triste e combalido...

Vendo-me assim, a minha Mãe, com muito empenho,

Buscou saber o que me havia acontecido...

Sorriu e me beijou, ao ver o meu desenho...

 

E me disse: “Obrigada, querido Filho!”,

Aconchegando-me, em seus braços, com amor...

E os seus olhinhos lampejaram tanto brilho,

Que o meu triste pranto esvaiu-se no esplendor.

 

Naquele instante, mesmo tendo pouca idade,

Percebi que “Mãe”, não rima com expressões...

Rima com amor, dedicação e bondade...

Com puros sentimentos... doces  emoções.

 

 
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O DIA DO BEIJO

 

As emoções sempre estabelecem um prazer imensurável, quando nos faz experimentar a satisfação e o contentamento... Sem dúvida, é por essa razão, que nós humanos nos deixamos levar pelas criações comerciais e buscamos “curtir” os sentimentos gerados pelas datas promotoras de alegrias.

E o mais interessante é que os resultados materiais, muitas vezes, são tão deslumbrantes, que até deixamos de dar conta da essência que envolve as datas.

Mas, me parece importante dizer que muitas destas datas sequer necessitariam do aspecto material para aguçarem os nossos sentimentos. Por exemplo, o Natal... Sem dúvida alguma, não há necessidade do presente material para que o espírito Natalino se evidencie... O Aniversário, também se pode passar sem receber qualquer regalo... e assim, também o Dia das Mães, o Dia dos Pais... Entretanto, existe uma data, que não há como existir sem se materializar o fruto de sua concepção: O DIA DO BEIJO... o Dia do Beijo sem beijo, não é Dia do Beijo... pode até ser qualquer Dia, mas, não é Dia do Beijo.

E por essa razão que o Beijo, nesse dia, é especial... é mais sonhado... é mais emocionante... é mais apaixonado... é mais sentimental... é mais tudo... inclusive, é muito mais ausente, quando o beijo esperado, deixa de ser recebido.

Quiçá, tenham sido todos esses motivos... ou até outros, “ocultos por elipse”, que em certa ocasião, vi-me estimulado a poetar sobre...

 

O BEIJO...

    

O beijo, porta do amor

Por onde entram as  paixões

Em busca do eterno ardor

Das mais lindas emoções.

 

Os lábios, emaranhados,

Abrem de fato caminho

E, os sonhos enamorados,

Transportam, com mais carinho.

 

Transformam tudo em desejo,

Fazendo a lenda, verdade...

Traduzindo então no beijo,

A maior felicidade.

 

No entanto, essa bela porta

Mostra-se às vezes fechada...

A vida parece morta

E a paixão despedaçada.

 

Assim, se o beijo é dado

A penas como “dever”,

Seu doce é amargado

No azedo do desprazer.

 

Iguala-se ao beijo falso

Que Judas deu em Jesus.

Bota o amor no cadafalso,

Transforma os lábios em cruz.

 

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                A NATUREZA EM CAMBURI

 
 
 

Nada mais motivador para desfrutar as delícias da praia de Camburi, que os dias de verão... 

O sol, tão logo desperta, lá no horizonte,  promove um convite especial para uma intensa ventura... 

O céu, ao se apresentar de azul bem claro, também mostra uma alegria contagiante... 

E quando entardece, muda o  cenário na praia... e  a luz do luar, tão acolhedora, promove um acalanto especial...

 E com a Natureza, sempre em festa, Camburi traduz-se em poesia... 

 

A NATUREZA E CAMBURI

 

 

A Natureza, por aqui, traduz-se em rima....

 E com os mais lindos matizes de aquarela,

Todos os encantos da praia, ela revela,

 Transformando Camburi em sua Obra Prima.

 

No amanhecer, o sol - nascendo no oriente –

Deixa as brancas nuvens tingidas de vermelho...

Enquanto o céu, fazendo o mar - de imenso espelho - -

Colore de anil a vastidão, que está presente.

 

O passar do tempo aviva a novel paisagem...

E, por mais que o calor escalde as areias,

Em Camburi, as curvas das belas sereias,

Transformam a praia na mais linda miragem.

 

Eis que entardece...  mas, o belo não se acaba...

E a Natureza deixa a todos deslumbrados...

O sol traça, no azul do céu, laivos rosados

E o firmamento mostra o Pendão Capixaba.

 

A noite transforma Camburi numa fonte...

Escurece o céu... mas,  as luzes, na avenida,

Buscando oferecer maior encanto à lida,

Promulgam o nascer da lua, no horizonte.

 

Por fim, a madrugada traça a trajetória...

A Natureza, então, cumprindo o seu preceito,

Recolhe Camburi, ao seu sereno leito,

E a adormece... em suave sonho de Vitória.

 

 

 

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O VIGIA

 

Certa ocasião, havia ido passar alguns dias em Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro, com a minha mulher. Meu intento nem era de descançar, em verdade,  o passeio buscava mais rever a cidade que conhecera ainda bem jovem... e relembrar o passado. 

Creio que não existe cidade mais apropriada que Petrópolis, para a gente se lembrar do passado. Assim, antes de tudo, dar uma volta de charrete pela cidade  - nas Vitórias, como são denominadas - e sentir  uma nostalgia inebriante... A seguir, apreciar o velho "Quitandinha", para relembrar os bailes maravilhosos que, alí,  eram realizados...  e terminar o dia admirarando o Palácio Impérial... Mas, não esquecendo de levar em consideração as ortências, que ornamentam as calçadas, fazendo das ruas  verdadeiros caminhos para o céu...

Contudo, não pretendo fazer qualquer apologia à saudade...  o que quero realmente, é apenas contar um acontecimento que acabou por dar origem a uma das minhas obras, devido a sua originalidade... 

No dia seguinte de nossa chegada à cidade, logo pela manhã, minha mulher e eu fomos fazer compras nas Malharias - muito famosas na região... E, enquanto, nós dois corríamos o comércio, aproveitávamos para apreciar a paisagem inesquecível da "Cidade Céu". No entanto, não foi a beleza do lugar, nem tampouco os preços baixos das roupas, o que mais nos chamou à atenção... inimaginavelmente,  foi a quantidade imensurável de cachorros (enormes, grandes, bem grandes mesmo) que dormiam ao longo das calçadas, sem se deixarem importunar por coisa alguma... inclusive, um deles, de barriga para cima, parecia estar morto... as pessoas que passavam, tocavam-lhe a cauda, o corpo, as orelhas e o bicho lá, sem sequer mexer o focinho... Cheguei a comentar com a minha esposa que aquele cão estava morto!!!

E até parece que o "cretino" me ouviu, pois, de imediato, se levantou e saiu va-ga-ro-sa-men-te caminhando pela rua... sem dúvida, rimos muito do episódio.

Havíamos conhecido algumas pessoas, enquanto fazíamos as compras... e, em razão dessa integração, tivemos o convite de um comerciante para irmos, à casa dele no dia seguinte, para ver a nova coleção de roupas. Sem dúvida que aceitamos e, então, lá fomos nós. E, ao entrarmos na residência do cidadão, uma inesperada visão... um enorme cachorro - todo manchado -  dormia o "sono dos justos"...como "um anjinho", sobre um tapete, perto da soleira da porta, que permanecia aberta. 

Perguntei se era costume dos cães do lugar dormirem à qualquer hora. O senhor me respondeu: Não sei te dizer, mas, esse é o "Vigia", poucas vezes o vemos acordado! O que nos fez rir bastante. 

Disse-lhe que era artísta plástico, e pedi para fazer um rápido esboço... 

Porém, o mais interessante, é que deu tempo de fazer o desenho e comprar as peças de vestuário... e  o "bichão" permaneceu o tempo todo dormindo... e a porta lá - escancarada... belo Vigia. 

Naturalmente, não quero que vocês acreditem na história, mas, dêm uma olhada no quadro que pintei, retratando "O VIGIA".

 
 
 
 

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A SALA DE ESTAR DA MINHA LOJA

 

Residindo em Vitória e em razão da idade um tanto avançada, não são muitas as vezes que consigo comparecer a minha Loja Mãe, em Brasília... contudo, posso afiançar que ela está sempre em minhas lembranças.

Hoje, ao iniciar as atualizações do “Arthev”,  sem querer deparei, nos meus arquivos, com três quadros que pintara para colocar na sua Sala de Estar, e uma saudade muito intensa, imediatamente, se instalou no meu coração.

Creio que para minimizar tal sentimento, devo contar como surgiram as ideias para pintar os quadros...  para, no final,  apresentá-los aos visitantes.

Eu havia comparecido à Sessão de Loja de Mesa, realizada para homenagear S. João – nosso Padroeiro – por ocasião do Solstício de Inverno de 2002.

Tão logo ao chegar, a alegria de rever e abraçar os meus Irmãos foi intensa, propiciando-me um reencontro maravilhoso. Entretanto, as mudanças estruturais que tinham sido feitas na Sala de Estar, surpreenderam-me pela grandeza...tudo estava mais amplo e o ambiente apresentava-se suntuoso...deixando-me perplexo.

Creio ser importante dizer que, ainda que me sentisse admirado com a imponência, a nudez das imensas paredes, todas pintadas de branco, não me proporcionava uma sensação agradável... parecia-me uma vastidão sem vida... Mesmo que o branco traduzisse a Paz, a sensação não era de Paz.

Naturalmente, havia que ser discreto para não denunciar a minha percepção... eu não tinha o direito de contaminar o convívio fraterno tão gostoso que reinava entre mim e os demais Irmãos.

A Sessão iniciara e a beleza de sua ritualística fez-me esquecer, pelo menos, momentaneamente o efeito que a ampliação da Sala me causara.

Terminada a Sessão, novos abraços de Irmãos com os quais ainda não tivera contato, e muitos minutos de alegria, permitiram que eu retornasse ao hotel, em que estava hospedado, mais tranquilo.

Todavia, o sono não fora tão conciliador... mas, buscando deixar para o dia seguinte os pensamentos, pouco a pouco, consegui dormir... afinal de contas, tinha o tempo todo da viagem de volta ao Espírito Santo, para conjeturar.

E assim aconteceu, às vinte horas, bastou que o ônibus desse partida, para a minha mente - como que já estivesse programada – relembrar a Sala de Estar  da Loja, e inúmeras conjecturas fossem surgindo para torna-la mais agradável.

Depois de imaginar várias decorações, até inconcebíveis para o ambiente, pensei: Alguns quadros alusivos à Ordem, parecem-me ser uma boa decoração... o pensamento deve ter sido tão alto que o meu vizinho de viagem pigarreou.

Um calafrio desceu-me pela coluna... as ilustrações podem despertar certa curiosidade em outras pessoas, propiciando que interpretações equivocadas sejam evidenciadas...

Garanto que a preocupação, acabou tornando a viagem bem mais longa, do que é na realidade.

Dá-se um jeito... busquei justificar, para não continuar preocupado.

O ônibus já havia parado em Paracatú e chegara em Três Marias. A lua cheia clareava o rio S. Francisco e fazia a madrugada ficar aprazível. Soltei do veículo e dei uma volta mirando a barragem iluminada pelo luar, todavia, uma nuvem espeça encobriu o satélite, fazendo a noite parecer mais noite. Por um instante, um faixo de luz rasgando o anteparo, acabou por criar um caminho luminosos entre o céu e a terra... sentei-me em um tronco de árvore, colocado no chão, para apreciar o espetáculo.

Não demorou muito e a buzina do ônibus ecoou chamando os passageiros... fazendo-me, também, despertar do devaneio.

Entrementes, ao voltar para o coletivo,  tive a felicidade de deparar uma velha escada com cinco degraus corroídos... tive a impressão de serem obstáculos intransponíveis a quem quisesse subir por ela, sem ter certos cuidados.

E a viagem continuou...  

Avaliei minuciosamente o que me acontecera na parada, e voltei, em pensamentos, à Sala de Estar da Loja... de imediato, as paredes alvas surgiram gigantescas a minha frente...e sem vida,  induziram-me então a ver no vazio uma semelhança com a dor sentida pela morte de um Grande Mestre... o responsável pela decoração do Templo de Salomão...

Compreendi, naquele momento, que Deus me havia proporcionado imensurável inspiração e os motivos a serem pintados, me haviam sido oferecidos. Além disso, entendi que, suas exposições não criariam  qualquer constrangimento... os quadros  iriam  transmitir uma semântica plausível para as pessoas que transitassem pela Sala de Estar, embora, também expressassem um significado especial para os Maçons.

Virei a cabeça para o lado e dormi...só fui despertado pelos raios do sol formando, no horizonte, uma luminosidade jovial.

A viagem estava quase chegando ao fim, mas ainda deu-me tempo de pegar algumas anotações que estavam na maleta de mão, e aproveitando o reverso do papel, comecei a esboçar as primeiras ideias das pinturas... e que seriam sugeridas como ornamentação da Sala de Estar da minha Loja.

Em casa, com mais tempo, esmiucei os rascunhos e os transformei em modelos a serem realizados.

Um ano se passou... e lá estava eu em Brasília, na minha Loja Mãe, colocando na parede frontal da Sala de Estar, com a permissão do Presidente e de todos os Irmãos, os três quadros que havia pintado. 

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O primeiro denominei de “FIAT LUX”.

A pintura representa que o verdadeiro Homem deve ter como ideal a Busca da Verdade (facho de luz). Para tal, tem que aprimorar-se pelo conhecimento (pergaminho, tinteiro e pena) e pelo trabalho (pedra, maço, cinzel, luvas e avental), utilizando-se dos quatro Elementos da Natureza: a Terra (tronco), o Ar (céu), a Água (samovar) e o Fogo (vela acesa), como inspiração e argumento.

Mostra que o aperfeiçoamento do Homem, exige uma reflexão sobre os prazeres da vida (taça), entendendo que da sua prática desmensurada brota o desequilíbrio moral, gerando o estado de cegueira (venda), que o impossibilitará de atingir o ideal.

 

O segundo, chamei de “A ELEVAÇÃO DO HOMEM”.

A pintura representa os estágios de elevação do homem.

O primeiro degrau, mostra que Himem inicia o seu conhecimento de forma rudimentar (pedra tosca), que será  evoluído por meio do trabalho braçal (maço e cinzel).

O segundo, configura que a ampliação do conhecimento (pergaminho) será conquistada através da aprendizagem dos traçados da reta (régua) e da figura perfeita: o círculo (compasso).

O terceiro, representa o Homem senhor de sua capacidade (régua), visualizando a possibilidade de, com o seu conhecimento, dominar o seu mundo pessoal (alavanca).

O quarto, mostra que o Homem ao constatar suas limitações (régua) através do discernimento,  procura pautar suas atitudes pela retidão (esquadro), para atingir a sua evolução.

O quinto, com o desenvolvimento do trabalho intelectual e aprimorado (pedra lapidada) o Homem torna-se capaz de perceber a justiça (espada) como a forma ideal de conduzi-lo, por caminhos iluminados (candelabros e velas) ao atingimento da universalidade da evolução espiritual (espiga de trigo).

E no todo,  mostra que o homem, antes de se lançar a qualquer empreendimento, deve primeiro invocar a proteção de Deus (estrela resplandescente), para fazê-lo com perfeição.

 

Ao terceiro quadro, dei a denominação de “ EXALTAÇÃO DA CONSCIÊNCIA”.

A pintura representa o Home Livre e de Bons Costumes...  consciente de que só as atitudes corretas (maço, esquadro e régua) são capazes de levá-lo à perfeição humana, ao revelarem o amor e a humanidade (solo e relva). 

Outrossim, representa o reconhecimento de que se as condutas forem calcadas em condições escusas, em arrogâncias ou em desonestidades (manchas de sangue nos instrumentos de trabalho), além de estarem matando o Homem individualmente (avental manchado de sangue). estarão destruindo a humanidade (galho de árvore arrancado), ao promoverem o desrespeito ao semelhante, o despotismo e a vaidade.

Faz perceber ainda que, se assim acontecer, por mais que o Homem procure se esconder, até mesmo nas trevas (céu escuro), jamais poderá se ocultar, pois a voz de sua consciência (facho de luz) de imediato, o denunciará.

 

 

 

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O CARTAZ DA BARRACA

 

Estava para ser realizada uma Feira Filantrópica em Vitória, Espírito Santo... e um sobrinho integrante do evento, pedira-me que fizesse  o cartaz para uma das barracas. Disse-me ele que a barraca seria denominada de BARRACA DO RIO e que iria vender produtos oriundos da Cidade Maravilhosa, visando angaria fundos para beneficência.

Sem dúvida, a finalidade do evento não me fez pensar muito para aceitar a tarefa...

Indo até ao local onde seria realizado o acontecimento, constatei que o tamanho do cartaz teria que ser bem grande, pois a barraca mediria, nada mais nada menos, que cinco metros de largura. De imediato, imaginei que deveria fazer um cartaz com a mesma dimensão da barraca, tendo um metro de altura, para ser visto de todos as distâncias da Feira...mas, de supetão surgiu-me uma interrogação: Como prendê-lo, se eu não sei como a barraca será montada?

Bem, acabei voltando para a casa com duas preocupações: Como fazer uma estrutura não muito pesada, mas resistente o suficiente para manter o cartaz preso à barraca, e o que configurar no painel, para se relacionar à denominação que fora dada. 

Busquei mais informações e soube que a barraca seria toda estrturada em madeira, coberta por uma lona.

No dia seguinte, comecei a conjeturar como deveria ser a armação e passei a esboçar um chassi com cinco metros de cumprimento por um de altura, reforçado com transversais de metro em metro, e um travessão horizontal ao centro... devendo ser confeccionado com sarrafos de quinze centímetros de largura por dois de espessura.  

Depois de calculado e desenhado, levei o “projeto” a uma serraria para ser confeccionado... e, em três dias, disse-me o marceneiro que estaria pronto.

Contudo, também precisava de tela para cobrir a armação... Afinal,  eu pretendia fazer um painel e deveria ser bastante consistente... E foi aí, que encontrei a maior dificuldade. Tive que encomendar a tela no Rio de Janeiro, pois a única casa de material de pinturas, em Vitória,ES, não vendia o material a metro... só telas prontas e pequenas.

E, assim, tive que aguardar uma semana inteira... mas, tudo se houve dentro do esquematizado, pois ainda que o períodos de espera do material houvesse me preocupado, devido a data do evento estar próxima, acabou por me servir de tempo para imaginar o que configurar no cartaz... então, pensei em fazer a silhueta do “Pão de Açucar – o símbolo natural da cidade – porém, seria muito pouco... dessa forma, partindo de tal imagem, desenhei o restante do painel acrescentando  o Corcovado com o Cristo, o estádio do Maracanã e a Igrejinha da de Nossa Senhora da Penha... E para complementar a ideia de RIO DE JANEIRO, busquei inspiração no samba de Vilka Isabel - samba de Noel e meu também -  e tracei os contornos de um violão e de um pandeiro, estilizando-os de maneira que, entrelaçados, servissem de fundo ao perfil da cidade.

Sete dias depois o painel, finalmente, estava prontinho... ressaltando bem a imagem e a alma do Rio de Janeiro. Agora era só levá-lo para o local onde ficaria exposto... e sua exuberância me parecia fazê-lo bastante expressivo.

Tão logo cheguei, os responsáveis pela barraca elogiaram o cartaz... acharam-no lindo e eu fiquei deveras lisonjeado. Todavia, havia ainda um problema a ser resolvido: fixar o grande painel na barraca,  já armada, pois a Feira ia ser aberta no dia seguinte.

Consegui uma furadeira e fiz dois furos de cada lado e no centro do painel, em seguida fixei o cartaz com parafusos, aproveitando o topo da fachada, todo de madeira... completei a fixação, amarrando o cartaz com arames, que iam das suas extremidades ao fundo do telhado da construção provisória.

Terminado o trabalho, senti-me um excelente carpinteiro... sem dúvida, o painel estava bem preso, suficiente para  aguentar uma semana de apresentação... e eu disse com os meus "botôes": “se esse painel se desprender, todo o telhado cai junto”... Pedi a Deus que protegesse...e fiquei confiante, pois estva em "Boas Mãos".

Um pequeno "olofote" foi instalado no poste defronte a barraca, focando a luz  diretamente sobre o cartaz... A Luminosidade tornava-o ainda mais expressivo... E eu vibrei!

No dia seguinte, a Feira foi aberta às vinte horas... e na imensurável festividade, se fizeram presentes as maiores Autoridades do estado, convidados  e pessoas pertencentes às diversas Instituições Filantrópicas e Religiosas.

As barracas passaram a ser visitadas por todos os presentes... E um "mundão de gente" entrava a sai da BARRACA DO RIO... quiçá a mais concorrida... e eu pensei com meus botões: O Painel que pintei, realmente está chamando à atenção... E até esperei que alguém comentasse sobre o trabalho que eu havia feito... afinal, ele ficara “lindo” e era a atração da Feira... (assim eu imaginava), mas, ninguém falou nada... nada... nada mesmo! Ninguém queria saber do painel... Sequer alguém tirou uma foto...

Senti-me frustrado”!

Todos só se preocupavam em entrar e comprar os produtos que se encontravam sendo comercializados na BARRACA DO RIO... ninguém olhava para cima... E olha que estava muito bem iluminado.

De repente, senti uma coisa estranha dentro de mim... e me vi assustado comigo mesmo...

Como poderia querer que as pessoas observassem o painel... na realidade, ele não era nenhuma uma obra de arte, exposta para ser apreciado...  era apenas um CARTAZ... que fora colocado para ilustrar e indicar a BARRACA DO RIO (sem dúvida, o motivo mais importante, para que os objetivos fossem atingidos)... E o meu egoísmo, por instante, havia me impedido de reconhecer que todos estavam alí, unicamente, para contribuir para a beneficência.

Não sei se gritei “EUREKA”, mas, com certeza, um "insite" me volveu à realidade... e, então,  me conscientizando dos objetivos filantrópicos  a serem atingidos entreguei-me às metas, tão fortemente,  que o "painel", fora esquecido por completo ... a ponto, de nem saber que fim levou, ao término do evento.

Uma semana depois da Feira ter terminado, eu recebi um telefonema de uma pessoa -  pessoa, com a qual, o meu relacionamento era pouquíssimo... Durante a conversa, fez ela alguns breves comentários sobre a Feira, mas deixou bem claro que me havia telefonado, exclusivamente, para me dizer: “Hever, que lindo cartaz que você pintou... bem que ele poderia ser aproveitado como um quadro!"

Confesso que o telefonema me deixou muito confuso... o que eu pretendera do CARTAZ - depois de ter conscientemente abandonado - fora atingido. Embora não fosse efetivamente uma OBRA de ARTE,  simplesmente, ele se fizera reparar como tal...

Um bom período de tempo se passou e, certo dia,  por acaso, acabei encontrando  a pessoa que me dera o telefonema... e a primeira coisa que me perguntou foi pelo painel... Sorri... não lhe disse nada... Porém, ao chegar em casa não me contive... e comecei a realizar um estudo, com base no CARTAZ DA BARRACA DO RIO...  dando margem ao  surgimento  do " RIO 40º ".

 

 

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NATAL – DATA QUE LEMBRA AS ARTES

 

Não há como negar que a festa maior da Cristandade está ligada à Arte... Os presépios, buscando mostrar detalhes do nascimento de Jesus;  as decorações das lojas comerciais; os arranjos colocados nas cidades; os símbolos Natalinos expostos nas portas das casas; tudo demonstra um desempenho artístico, especialmente desenvolvido para transmitir uma Fé e, ao mesmo tempo,  incitar a paz aos homens de boa vontade.

Ao reparar os cartões Natalinos, por mais simples que possam ser, pode-se constatar que todos apresentam maravilhosas estampas ou gravuras, mostrando a presença da Arte... Inclusive, as mensagens que neles estão escritas, também não ficam atrás, são sempre composições poéticas, de forma a promover uma  grande emoção, no seu recebimento... E isso, é ARTE.

Quando criança, evidentemente, por pertencer a uma família bem pobre, não tinha dinheiro para comprar os cartões de Natal... contudo, jamais deixei de mandá-los para minha Mãe, para o meu Pai, para os meus Irmãos, para os parentes e para os meus queridos amiguinhos...Pois, eu mesmo os produzia.  

Aproveitava a cartolina que sobrava dos afazeres escolares para elaborá-los; pintava com  lápis de cor; prendia os arranjos com cola de farinha de mesa, feita por mim;  cortava papéis coloridos - que embrulhavam os presentes que ganhava-; e, desenhava as figuras que eu mesmo esboçava...

Assim, certos cartões continham  árvores de Natal, recortadas  em papelão esverdeado,  ornamentadas por enfeites de papéis coloridos...  um Papai Noel, bem bochechudo e com um sorriso matreiro... anjinhos, desenhados com muito cuidado, por vezes, para ficarem sentados nas as estrelas cadentes...   uma vela cintilante, com a cera caindo pelo lado, de forma a transmitir uma mensagem de paz e de luz celestial...

Mas, o desenho que mais me comovia era  do menino Jesus na manjedoura... sempre procurei demonstrar a Sua humildade... 

Todavia, não me bastavam os desenhos, meus cartões, ainda continham pequenas poesias, enaltecendo o Aniversariante...

E posso garantir, que os meus trabalhos jamais deixaram a desejar... Pelo menos, os elogios que recebia de minha Mãe... “Quem dera um cego vê-lo!!!”, sempre me estimulavam a continuar confeccionando-os.

É bem verdade que depois de certo tempo, já trabalhando e ganhando algum dinheiro, os cartões começaram a ser comprados... Porém, vejo-me obrigado a confessar que, até certo ponto, a preguiça também colaborou para que não mais fossem confeccionados por mim... Mas em verdade, uma espécie de vergonha,  também influenciou - em muito - para que os cartões fossem adquiridos  no comércio.

Entrementes, o tempo e a própria evolução tecnológica acabaram fazendo-me voltar a confeccionar os cartões Natalinos ... o advento da informática, fez-me aproveitar os meus dotes artísticos para reproduzir as mensagens Natalinas, então,  personalizadas...

Assim, usando o “mouse” como caneta, elaborei no “Paint” ,  os primeiros Cartões Digitais.

 

E a parti do primeiro, passei a tomar gosto e surgiu outro...

 

E depois mais outro....

 

E assim, com muita ARTE, eu continuo a desejar FELIZ NATAL!!!! através dos meus próprios cartões.

 

 

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PARATY... UM RETRATO DO PASSADO

Fizera um planejamento perfeito para viajar até Curitiba, pois um dos meus grandes sonhos era conhecer aquela cidade. Pesquisara mapas; tracejara as cidades, onde iria parar; estudara os manuais buscando detalhar as estradas; traçara os melhores itinerários, fazendo comparações das distâncias; calculara os quilômetros que iriam ser percorridos; escolhera os hotéis para os pernoites; até os restaurantes, eu conseguira selecionar.

Com certeza, seria a viagem dos sonhos... eu não esquecera de nada, no meu projeto...  tudo havia sido pormenorizado.

Então, só faltava mesmo pegar a bagagem e partir, uma vez que até o carro - um gol zero quilômetro – encontrava-se prontinho para a viagem.

Realmente não faltava mais nada... inclusive, o material de pintura já estava separado... Afinal de contas, como deixar de aproveitar uma oportunidade dessa, para registrar alguma paisagem?.

É bem verdade que não iria viajar sozinho, minha mulher e, também, minha filha – Léa Maria - e  meu neto – Jorge Luiz - , iriam me fazer companhia. O neto encontrava-se ansioso  por  passar em São Paulo... ia comprar os patins – a “febre do momento”  que estava deixando a garotada “louca”.

Mas, não vou falar de toda a viagem, primeiro, porque ela acabou sendo modificada, em razão de um comentário que o “imbecilzinho” aqui fizera em Bertioga, dizendo  que nós  íamos pegar a “rodovia da morte”, referindo-me a BR 262 sul, para chegarmos à Santa Catarina... É óbvio que tal escólio infeliz fez com que todos ficassem receosos de continuar a viagem, sendo-me “exigido” que fossemos direto para São Paulo, dando fim ao sonho de conhecer Curitiba.

Contudo, quero ressaltar, que mesmo assim, a viagem não deixou de ser maravilhosa, primordialmente, quando paramos em Paraty... Uma cidade da época do Império, cujos casarios e lampiões, deixam qualquer ser humano sensibilizado...  na verdade, boquiaberto, com tamanha beleza e com tanta história viva a saltar aos olhos.

Quero crer que qualquer pintor permaneceria o resto da vida, naquele lugar, admirando-o, contemplando-o... parece-me que ele foi criado, exclusivamente,  para ser eternamente retratado.

Apenas um lamento: a semana não era de lua cheia... Tomei conhecimento que em plenilúnio, a maré invade a cidade e todas as ruas – por isso são côncavas - se transformam em verdadeiros canais deixando o mar se transformar em veias, para que o coração denominado “PARATY”, consiga pulsar mais suave  e mais divino... e eu, LAMENTAVELMENTE, não tive a oportunidade de sentir, no fundo da alma, a grandeza desse espetáculo.

Todavia, nos três dias em que lá permanecemos, deu para realizar um excelente trabalho... nada mais, nada menos, que quarenta e oito esboços dos recantos mais lindos da cidade...

E ao voltar à Vitória, aos poucos vão se transformando em pinturas bem pitorescas.

 

 

                                              A esta, dei o nome de "REFLEXO DA MATRIZ"      

 

 

                                 

                                                     A esta, "A JANELA". 

E a esta, "GIMPA",  por causa do galinho cata-vento.

 

                                                                                                      

 

Um dia desses, eu mostro os outros quadros.

 

 

 

 

 

 

 

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A ONDA

 

Meu neto Jorge Luiz é um excelente surfista, quiçá mais excelente neto que “cortador de ondas”, contudo, desde menino adora praia... nadar e surfar... pricipalmente surfar.

Mas, como morava a um quilômetro distante do mar, não foram poucas às vezes que buscava informações quanto à existência de condição para o surfe... quantas e quantas vezes, o telefone tilintou lá em casa... e a vó escutava do outro lado uma voz ansiosa indagando: Vó! Tem onda?

Vovó, toda entusiasmada, mesmo sem entender de maré, informava que as ondas estavam pequenas ou estavam grandes... Se tinha gente com prancha... ou a praia estava vazia...

Esse, era o maior diálogo entre meu neto Jorge e a minha mulher, ainda que suas vindas à nossa casa fossem constantes. Não há o que dizer do carinho e do afeto que ele sempre nos proporcionou e continua proporccionando, inclusive agora, já adulto, casado, com uma filha linda.

Porém, o mais interessante é que a parede de seu quarto, mais parecia a divisória de uma museu hidrográfico ou a entrada de um Instituto oceanográfico, pois era fotografias de ondas de tudo quanto era jeito, presas na parece... e de todos os formatos: formando um túnel, quebrando na praia, empinada, rajada, enfurecida, calma,com surfista,de noite,de dia, com chuva, com sol...

Um dia, resolvi fazer-lhe uma surpresa e me propus a pintar uma onda, sem dúvida, para substituir aquelas fotos recortadas de qualquer jeito, que estavam no quarto... creio eu, como DE... CORAÇÃO.

Na realidade, não seria uma onda "trivial"... havia de ser uma onda especial... Então comecei a pesquisar, que tipo de onda seria a mais propícia para o surfe... Constatei que as ondas do Havaí, eram as mais cobiçadas pelos surfistas... contudo, nem todos tinham coragem de enfrentá-las, pois, com seus 10, 15 e até mais metros de altura, avultavam determinado respeito.

Todavia, verifiquei que no Brasil, não são poucas as praias que oferecem um litoral pleno à prática do Surfe, inclusive no próprio litoral Capixaba, os amantes do esporte encontram vagas maravilhosas para fazerem manobras espetaculares, demonstrando as suas técnicas aprimoradas.

E então, passei a frequentar as praias do Ulé, na barra do Jucú; as do balneário de  Jacaraípe, a de Manguinhos  e outras, buscando encontrar o modelo ideal.

Sem dúvida, vi-me obrigado a me valer da fotografia, recurso que não gosto muito de utilizar, para usar como modelo... prefiro o esboço no local... contudo, certos detalhes ficavam perdidos devido a rapidez com que a onda aparece e se esvai.

Comecei a realizar o trabalho e em pouco tempo a obra ficou pronta.

Numa determinada tarde, aproveitei que Jorge estava na faculdade e lá fui eu em sua casa... furadeira na mão, buchas e parafusos... e o quadro foi alçado na parede...

no lugar das muitas fotografias, já amareladas pelos raios de sol que entravam pela janela.

 

                                            A ONDA

 

À noitinha, o telefone tocou... minha mulher, que havia atendido, me falou: É pra você...

Quando peguei no fone, ouvi aquela expressão de surpresa, de contentamento e de muito carinho, dizendo: Vô você pintou a minha onda!

Que maravilha, poder promover a satisfação de um neto...

Que maravilha, poder compartilhar sentimentos...

Que maravilha receber reconhecimento...

E a pintura da onda me proporcionou tudo isso.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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“VERDE QUE TE QUERO MAIS VERDE”

 

Sempre tive verdadeira adoração pela Amazônia. Desde criança aquele região me atraia, quer pelo seu tamanho, quer pelos seus mistérios. O seu verde inigualável, os seus rios imensuráveis, as suas lendas inimagináveis e os seus encantos intermináveis, tudo me fazia imaginar a Amazônia como um paraíso sem fim.

Aos sete anos de idade, ganhara um exemplar da coleção “Viagem através do Brasil”, de Ariosto Espinheira, o livro se referia ao Amazonas... Não sei quantas vezes o li e o reli... entretanto, todas as vezes que o abria, sonhava em um dia pisar no solo amazonense.

 

Dona Áurea, a diretora da escola Pública Baptista Pereira, em que eu estudara, mostrou aos alunos um cocar que ela havia trocado por pedaços de papel-alumínio de embalagens de bombons, com um cacique de uma tribo amazonense... Não tenham dúvida,  a partir daquele dia, todos os papéis-alumínios que encontrava, quaisquer que fossem as suas origens, eram guardados, cuidadosamente, dentro de uma caixa de sapatos, visando conquistar um cocar igual ao que vira. Passava horas e horas desamassando e esticando cada papelzinho, de forma a ficar como se nunca tivesse sido usado. Acreditava que se tivessem melhor aparência, seria mais fácil da troca ser efetuada.

Creio eu, que o tempo tenha se encarregado de me contar a verdadeira realidade e apagado a vontade de fazer tal transação...Nem sei que fim foi dado à “caixa-forte”, protetora das bugigangas... só sei que a vida foi passando... cresci... tornei-me adulto, e nenhuma oportunidade tive de conhecer os estados que constituem a  Amazônia Brasileira. Contudo, aquela região, sempre esteve em meus pensamentos.

Certa ocasião, recebi de um amigo que residia no Amazonas uma fotografia - em preto e branco - de um igarapé. Tomando a foto como modelo, e imaginando como deveria ser a sua coloração original, pintei um quadro. Tirei uma foto da pintura e a enviei ao meu amigo... e fiquei muito satisfeito, ao receber dele a indagação “de como eu havia colorido a foto que me enviara ”.

 

E, assim, surgiu o “VERDE QUE TE QUERO MAIS VERDE”.

 

 

 

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O LANÇAMENTO DE “HERANÇA” E A MOSTRA DE PINTURAS.

 

No dia 11p.p., realizei o lançamento do livro “Herança” e X Mostra de Pinturas. Os acontecimentos, fazendo parte da Programação Cultural da Academia Maçônica de Letras do Espírito Santo, tinham como objetivos: Corroborar no Desenvolvimento da Cultura Capixaba; Ampliar a Integração da Família Maçônica, Promover um Intercâmbio Artístico-Social; Propiciar um Entretenimento Sadio aos Participantes e alguns outros... e todos foram, plenamente, atingido.

Entretanto, de maneira bem sutil, eu também buscava promover uma homenagem a minha mãe e a meu pai, por isso, os dois eventos foram evidenciados juntos...

Não me vali de motivos especiais, em nenhuma das vinte duas pinturas que estavam expostas, para ressaltar tal particularidade, todavia, usei o quadro “O Legado”, (que abria a Mostra), como ilustração da capa do livro, buscando demonstrar a minha gratidão aos dois homenageados, primordialmente, pela “Herança” que recebi.

 

                  "O LEGADO"

 

Perdoem-me se sou detalhista, mas preciso dizer que “O Legado” é o nome da poesia que deu origem à pintura, daí eu lhe ter atribuído denominação igual, e encontra-se transcrita no quadro.

Para complementar a minha homenagem aproveitei  para colocar,  no livro, como Nota do Autor, uma explicação detalhada a respeito, da obra, de forma que o leitor entendesse o porquê de tê-la pintado.

 

“Nota do Autor

 

Desde o momento em que comecei a rascunhar este livro, já havia decidido em chamá-lo de “Herança”, pois a minha ideia era de prestar, através dele, uma homenagem (in memoriam) aos meus queridos e saudosos pais.

Inicialmente, juntei aos meus trabalhos, fotografias de alguns quadros de meu pai e certos poemas de minha mãe, pois, eu queria apresentar os frutos com as fontes, em uma única obra. Porém, certos entraves fizeram-me abandonar a ideia inicial, passando apenas a transcrever somente as minhas poesias.  

Contudo, a vontade de lhes prestar a minha reverência não se esvaiu e, então, resolvi ilustrar a capa do livro com a foto do quadro “O Legado”, que pintara em suas homenagens.

Nesse quadro externo o meu eterno agradecimento... Não só pela formação que me deram, mas também pelos legados que me deixaram na arte e na literatura.

A mesa que se vê pintada em primeiro plano, realmente existia em minha casa. Procurei retratá-la, como era, de modelo bem simples, mas, sem esquecer a sua solidez e consistência que traduzem a base da minha educação... aquela mesa sempre serviu de marco à união da minha família. Nela, fazíamos as refeições, e em torno dela, reunidos, solenizávamos os momentos mais importantes de nossa vida.

Sobre a mesa, observa-se primeiro uma caneca branca de louça, uma pequena cesta de vime coberta com um paninho de crochê e um pedaço de pão. Dessa forma, busquei representar o meu sustento biológico e, sobretudo, o carinho que marcava o amanhecer do meu dia-a-dia.

Um pouco mais atrás, vê-se um castiçal dourado com dois círios gastos pelo uso, e apagados. Foi a maneira, mais ilustrativa que encontrei para simbolizar os meus pais... como verdadeiras fontes de energias, jamais se importaram em se consumir para manterem acesa a luz que iluminava o caminho que eu deveria trilhar, para atingir o meu porvir.

 

No lado direito do quadro encontram-se três livros... intitulei-os de: “Pinturas”, “Poesias”, e, “Família”. Atribuí a autoria do primeiro, ao meu pai - João Nogueira Filho; a do segundo, a minha mãe – Francelina da Silva Nogueira; e, a do último, aos dois em parceria. Quis, com essas configurações, representar a cultura, o conhecimento e os embasamentos éticos e morais, que eles me transmitiram.

À frente, destacam-se um tinteiro, uma caneta de madeira com a pena metálica e um bloco feito com “papéis de pão” (papéis acinzentados usados para embalar pães, na época de minha infância), onde está grafada a poesia O Legado *, que dá nome à obra. Dessa forma, além de ressaltar a atuação de mamãe na formação e orientação de minha educação, busquei também destacar a dádiva literária que, dela, recebi.

E por fim, sobre a mesa estão três bisnagas de tinta, uma palheta de pintura, alguns pincéis na caçamba e um vidro de verniz, e por trás dela, um cavalete sustentando um outro quadro, onde estão pintados instrumentos musicais, uma garrafa de vinho e uma taça, que avultam a herança legada por papai.

 

Assim, busco de uma maneira carinhosa venerar a minha Mãe e a meu Pai...

 

Jamais, poderei esquecer que eles me transmitiram todas as suas habilidades, na literatura e na arte plástica... Realmente ambos me deixaram uma inigualável HERANÇA.

 

Hever da Silva Nogueira

 

*   Primeira poesia transcrita no livro.

 

E na poesia,  queridos visitantes, vocês poderão perceber que eu busco confirmar, aos dois, todo o meu reconhecimento:

 

O LEGADO

 

 

Pela herança recebida,

De um preço não estimado,

Posso afirmar que, na vida,

Sou um homem afortunado.

 

Não foram bens monetários

Que herdei de meus genitores...

Sendo simples operários,

Deixaram-me outros valores.

 

Educação e cultura,

Respeito, carinho e amor

Fazem parte da fartura

Que me fizeram credor.

 

De moral e bons costumes

Foi repleto o meu legado,

E, muito além desses lumes,

Inda logrei outro agrado.

 

Pra completar a ventura

Que obtive na franquia,

De meu pai, herdei pintura...

De minha mãe, poesia.

 

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HOMENAGEM A UM GRANDE MESTRE

 

Quando realizei a primeira Mostra Individual de Pinturas, aqui no Espírito Santo, como já relatei, tinha os propósitos de comemorar o meu Jubileu de Prata na Maçonaria e angariar fundos para promover filantropia... Entretanto, dentro de mim, também borbulhava uma outra significativa intenção.

Em verdade, tal intento, nada tinha a ver com os objetivos que eu esquematizara atingir com a exposição... era um propósito particular (se assim eu posso classificar) e consistia em homenagear a um Grande Mestre da pintura.

Com certeza,  parecia-me uma excelente oportunidade... aproveitar a exposição para  enaltecer aquele professor que, pelo exemplo, sempre me de deixou embasbacado, levando-me a admirá-lo... Parecia estar diante de um homem diferente... defronte a um mito... em frente a uma história de vida... diante de meu Pai.

Resolvi então, pintar um quadro... onde eu iria retrattar o meu Pai  pintando junto comigo... e foi o que fiz.

Eis  a minha pintura.

Dei-lhe o nome de “De Pai para Filho”.

No quadro,  eu utilizei  três perspectivas independentes para compor um único conjunto.

Ao me autorretratar pintando a imagem de meu pai, busquei dar a ideia da existiência de uma janela, por onde a luz  ilumina o ambiente, porém, mostrei também, que tal abertura propiciava ver a torre da Fábrica de Tecidos Confiança Industrial, ressaltando o lugar onde nasci – Vila Isabel, Rio de Janeiro.

Ao pintar meu pai pintando o retrato de meu avô, utilizei o mesmo processo para mostrar, pela janela, a enseada de Botafogo, no Rio de Janeiro – lugar em que cresceu o meu pai. Todavia, a paisagem apresenta características do lugar correspondentes à época em que ele havia nascido - 1901... sem o Cristo Redentor, no morro do Corcovado... poucas edificações... construções baixas.

.

E para completar a ideia das origens de cada um de nós, pintei a torre de Coimbra - Portugal, ao lado do seu retrato do pai de meu pai, indicando onde ele nascera.

Com dois outros pormenores, procurei dar maior realismo à pintura... tive o cuidado de colocar as cortinas, que emolduram as janelas de cada ambiente, apresentando características peculiares às usadas nas épocas de cada um de nós... e na tela, em que meu pai está pintando o meu avô, encontra-se a sua assinatura... Sem dúvida a imitei...Também pudera, aquela assinatura eu a treinara fazer todos os dias, enquanto cursava o ginasial... por causa da caderneta do colégio,  constando  semanalmente o meu desenvolvimento intelectual e comportamental... mas, com certeza, nunca foi preciso imitá-la... além do mais, jamais teria coragem de fazê-lo... coragem?... não... o respeito era bem maior.

Creio que fui bastante feliz nessa pintura... Perdoem-me a minha pouca modesta, mas creio que não preciso dizer mais nada... “De Pai para Filho” diz tudo.

 

 

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O SARAU

 

 

Chegara em Brasília, no dia 12 de junho de 1965, às quatorze horas e trinta e cinco minutos. A temperatura não passava de quinze graus, mas o clima bem seco abrandava o frio que fazia.

Totalmente solitário e sem conhecer a cidade, peguei um taxi no aeroporto para chegar ao prédio da Novacap, onde estava instalado, provisoriamente, o Estado Maior da PMDF. 

Tão logo havia embarcado no “Avro” da Força Aérea, ainda no Rio de Janeiro, a saudade da família já começara a apertar o meu peito... era a segunda vez que experimentava aquela emoção, por me separar da mulher e dos filhos, ainda que momentaneamente. Emoção bem desagradável, mas não havia outra alternativa... a profissão determinara o cumprimento das missões e não havia como evitar. A primeira ocorrera em 1963, quando fui para o Panamá... quatro - longos – meses de afastamento. Agora,  a ida era para a “Na Nova Capital”. Sem dúvidas, seria bem diferente, haveria de ficar distante dos entes queridos por muito mais tempo... e ao invés de voltar, a família é que iria encontrar-se comigo, porém algum tempo depois.

Recebera o encargo de organizar, com outros Oficiais, as Unidades que constituiriam a Polícia Militar do Distrito Federal, em sua nova fase... Sem dúvida, era uma missão bastante complexa, pois teria que dispor nominalmente os sete mil, seiscentos e quarenta e oito Policiais Militares – Oficiais Superiores, Intermediários e Subalternos e todas as Praças, que haviam optado pelo retorno à Esfera Federal - em cada cargo e função que lhes fossem peculiares, formando detalhadamente as Unidades Operacionais e Administrativas da Corporação. Porém, por incrível que possa parecer, por mais que fosse causticante, o trabalho amenizava a saudade... era um verdadeiro paradoxo.

Ficara hospedado no Hotel Imperial, uma vez que não haviam residências destinadas para nenhum dos elementos da PM e, como os demais companheiros, procurava trabalhar para me distrair, inclusive, nos domingos e feriados... era um contrassenso, mas não queria que o tempo vago me servisse de condição desesperadora, devido a ausência da família... é importante dizer, que telefonar para a casa, somente à noite e depois de enfrentar três ou quatro horas, na fila de espera. Somente a agência  telefônica  da avenida W 3 - única existente em Brasília - tinha capacidade de fazer interurbano.

Existia, no Distrito Federal, uma Organização Policial, denominada de Serviço de Policiamento Ostensivo _ SPO, cujos membros aguardavam ser incorporados à Polícia Militar, que estava sendo reorganizada. E, entre os Inspetores daquela Corporação, encontrei um velho amigo, antigo colega de turma do colégio. Com certeza, muitas vezes serviu-me de apoio moral, solidarizando-se à dor da ausência da família. Não foram poucos os domingos em que era levado para almoçar em sua casa.

Com o passar do tempo, também encontrei com mais dois Inspetores do SPO que haviam cursado a Academia de Policía, no Panamá, no mesmo período que eu... e eles se incumbiram de me levar a outros lugares, “obrigando-me” a deixar um pouco de lado o hábito de trabalhar, em tempo integral, que começara a provocar certos efeitos colaterais. Contudo, sempre procurei mostrar-me sorridente, levando em conta que as outras pessoas não deviam ser envolvidas pela tristeza da minha saudade.

Então, frequentando outros ambientes, passei a ser conhecido de várias pessoas, e por isso, muitas vezes era convidado para festas. Todavia, ainda não me sentia em condições de estar presente. No entanto, passados alguns dias, fui convidado para o aniversário da noiva de um dos novos conhecidos e, para evitar certos constrangimentos profissionais, não fugi ao convite... Assim, no dia e hora marcados, lá estava eu, apresentando o mesmo sorriso de satisfação... não vou dizer falso, mas posso classificá-lo de  enganador.

Durante o desenrolar da festividade, resolveram promover um sarau, em que todos teriam que se apresentar... recitando, cantando ou fazendo qualquer coisa, até mesmo uma imitação. Cada um que se apresentava, após o seu número, escolhia o próximo a “dar o show”. Quase no final da festa, eu até havia imaginado que tinham me esquecido, o dono do apartamento, depois de cantar uma canção amorosa – que dedicou à noiva - chamou-me, dizendo: Agora vamos ver o que o cara mais sorridente da festa tem a nos mostrar.

 Com sinceridade eu não sabia o que fazer... pensei, pensei... e de repente, a voz do rapaz dizendo “o cara mais sorridente”  retumbou em meus aos ouvidos e, como se eu já a soubesse de cor, há muito tempo, recitei de improviso esta poesia:  

AMIGO

É... Tu que a brincar me vês

Sempre alegre e satisfeito...

Que alegria traz no peito!

Hás, de até pensar... talvez.

 

Engana-te muito, amigo.

Se revolvesses minha alma,

Verias que nessa calma,

Conter-me, sequer consigo.

 

É que fiz da profissão,

Inseparável amante,

Deixando lá bem distante

O meu mundo em profusão...

 

Um mundo inteiro... completo...

Que se pode chamar: Vida...

O amor da esposa querida

E dos filhos, puro afeto.

 

Não... não te quero enganar...

Mas, ao me veres sorrindo,

Podes crer que estou fingindo...

Sorrio pra não chorar.

 

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A PRIMEIRA MOSTRA DE PINTURAS NO ES

 

 

Mil novecentos e noventa e sete... eu completara em abril, sessenta anos de idade e, em agosto, chegaria ao jubileu de prata como Obreiro da Arte Real. Assim, imaginei, promover uma comemoração envolvendo os dois acontecimentos.

É bem verdade que não pensara em realizar uma festa suntuosa, mas, sendo livre e de bons costumes, arquitetei algo que me proporcionasse comemorar as duas datas praticando o espírito de solidariedade que aprendera na Ordem.

Havia ideado fazer o lançamento de um livro de reflexões, que denominei “Desbastando a Pedra”, porém não conseguira  a sua publicação, então, só havia um meio, que dependesse exclusivamente de mim, para angariar um montante e ajudar às pessoas que necessitassem:  Montar uma “mostra de pinturas”.

Eu escolhera o dia 20 de agosto, por uma razão especial, e, pensei expor vinte e cinco quadros representando os vinte e cinco anos na Instituição.  Como já tinha alguns quadros prontos, o tempo seria suficiente para complementar e organizar a vernissage.

Todavia, ainda que eu já tivesse participado de várias coletivas, veio-me à cabeça que jamais vendera uma obra que fizera... Pode até parecer bobagem, mas sempre interpretei a comercialização da minha arte como uma negociação de parte de mim mesmo. Confesso que fiquei meio confuso... mas, não por muito tempo, pois comecei a “bolar” uma transação diferente: Os quadros não seriam vendidos, seriam dados de presente... É, isso mesmo, as pessoas receberiam de presente a pintura que escolhessem, se me auxiliassem a promover a filantropia, doando, no mínimo, 50% do valor da obra.

Como, em outra ocasião, eu fora apresentado a um “marchan”, não foi difícil fazer a avaliação das pinturas, e assim pude dar prosseguimento ao que tinha planejado.

O dia marcado estava bem próximo, mas ainda faltava pintar um quadro para completar o número de obras, de acordo com o meu propósito... Pensei então, em fazer um quadro que representasse os meus vinte e cinco anos na Ordem. Dei-lhe o nome de JUBILEU.

 

E, então, às 17 horas do dia 20 de agosto de 1997, a Mostra de Pinturas estava sendo aberta aos convidados e ao público em geral... e o JUBILEU encontrava-se, em destaque, na entrada do Salão, como uma espécie de anfitrião às demais Obras.

JUBILEU

Não podia haver dúvida que tal obra, como um privilégio, mais que especial, por ser o expositor, ser-me-ia presenteada... entretanto, a doação pertinente, não poderia ser dispensada, para não quebrar o objetivo ideado.

Um “folder” explicativo, explanando os objetivos do evento, como seriam feitas as doações e o nome e o número da conta bancária da Entidade que receberia os donativos, foi distribuído e bem aceito pelos participantes.

Tudo foi maravilhoso...

Ah! Não posso deixar de mencionar que, embora, a exposição fosse permanecer por todo o resto da semana aberta, no fim do primeiro dia, todas as obras haviam sido presenteadas.

 

Aproveito, a oportunidade, para apresentar alguns dos  quadros expostos.

 

À BEIRA DO MAR

 

A pintura da Igreja de N.S. da Dores, de Paraty, chamou à atenção, mostrando a sua singeleza. Parecia transmitir uma paz imensurável, quiçá, fazendo com que os expectadores sentissem a presença dos anjos cantando ao seu redor. 

 

CARINHOSO - HOMENAGEM A PIXINGUINHA

 

Como na ocasião, da exposição, celebrava-se o centenário de Pixinguinha, aproveitei para fazer a minha homenagem ao grande músico brasileiro.

 

 

PESQUEIROS DE MARATAIZES

 

Os barcos de pesca de Marataízes são inspirações a qualquer amante da pintura, pois traduzem simplicidade, força e destreza.

PRAINHA

 

Não poderia deixar de colocar na exposição este quadro... Eu o havia esboçado há quase dez anos e quando resolvi pintá-lo, no local onde eu o havia desenhado, fora construído o entreposto de pesca de Vila Velha,ES, o que me obrigou a ter que pedir permissão para entrar no estabelecimento, para executar a pintura. Então, enquanto eu pintava, surgiram dois pescadores que se colocaram atrás de mim observando o que eu fazia e, de repente, um disse para o outro: “Olha! É o barco do Fagundes”. Vim saber mais tarde que o dono do barco falecera, na época que eu rascunhara o quadro. Sem querer eu lhe havia feito uma homenagem aquele pescador.

 

 

RETRATO DO RIO ANTIGO

 

Eu encontrara, nos meus alfarrábios, um livreto datado de 1922, que pertencera a meu pai, com algumas ilustrações do Rio de Janeiro, em preto e branco, então resolvi dar colorido a uma das reminiscências – Praça 15 de novembro .

 

 

CAMINHO PARA A IGREJA

 

Eu estivera em Paraty, e fiz mais de cinquenta esboços... aos poucos vou pintando cada um deles. Não há como deixar de pintá-los... a cidade é uma ilustração viva de obras, que precisam ser transferidas para as telas, devido ao carinho e o aconchego que conseguem transmitir.

 

 

Para terminar, quero ressaltar que durante a permanência, a exposição foi visitada por inúmeras pessoas, inclusive estudantes de diversos colégios públicos e particulares da cidade de Vitória,ES, que deixaram transcritos, no “Livro de Presença”, não só as suas assinaturas, mas, sobretudo, citações elogiosas, carinhosas, que guardo como um verdadeiro tesouro recebido.

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O DIA DA MULHER

 

Seria impossível, não revelar que o Dia da Mulher, muitas e muitas vezes, me serviu de motivação à elaboração de diversas poesias.

Embora, conte a História que um episódio hediondo tenha dado origem a essa comemoração, creio que a mulher deva ser homenageada por constituir, por si mesma, a maior fonte de felicidade... Ela é a essência do amor... Ela é o símbolo da dedicação... Ela é a razão da continuidade da humanidade... Ela é a inspiração da vida...

Atrevo-me a dizer que a mulher é a própria inspiração e foi pensando dessa maneira que busquei parabenizá-la em 1987, escrevendo o poema “INSPIRAÇÃO”, que transcrevo a seguir:

 

Ainda que sendo Deus, o Artista mais perfeito,

Ao fazer o universo, usou de criação.

Assim, ao montar e arquitetar o Seu feito,

Precisou Ele de buscar inspiração.

 

Planeara o sol – fonte de luz e calor -.

Do teu corpo moreno, meigo e delicado –

Oráculo de carinho, prazer e amor –

Que o grande astro rei foi, por certo, copiado.

 

E o céu... esse infinito azul de eterna calma,

Cuja aurora, lhe serve de fugaz  moldura?

Foi, mesmo, da cálida brandura de tua alma,

Que, sem dúvida, floresceu tal formosura.

 

O encanto, a magia, a maciez e a poesia

Desse teu cabelo tão longo, enegrecido,

Livre, baloiçando ao sabor da fantasia,

Foram as causas das noites terem surgido.

 

A origem da brisa, suave soprando além,

Saiu das tuas mãos, tão finas e sedosas.

Dos teus braços sedutores, dizendo “vem”,

O mar foi feito, com as ondas buliçosas.

 

E para dar maior enlevo à natureza,

Alguma coisa, ainda faltava Deus criar...

Nos teus olhos e nos teus lábios, a beleza

Buscou... e, então, fez as estrelas e o luar..

 

 

Muitos outros poemas me permitiram enaltecer a mulher em seu dia. Mas, um dos que mais gosto, coloquei no jornal mural da faculdade que lecionava, em 1986, e assim dizia:

 

MULHER

 

Quando criança pareces

Um tenro botão de rosa;

Menina, encontras nas messes

A forma de ser viçosa.

 

Adulta, és flor aberta...

És amor em plenitude;

Na velhice, és na certa,

Relicário de virtude.

 

Gerada para dar vida,

És essência de acalento...

Teu ventre é doce guarida,

Teu seio, mais rico alento.

 

Por tudo mais que se exprima,

Nada traduz a elação...

És de Deus a Obra Prima,

De satã, a tentação.

 

 

 

E hoje, quero desejar a todas as Mulheres, pelo seu DIA, apenas uma palavra: PARABÉNS!

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REIS MAGOS NAS TELHAS DE REIS MAGOS

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Hoje, termino a apresentação da mostra "Reis Magos nas Telhas de Reis Magos". Espero ter agradado e, ao mesmo tempo, contribuído para ampliar o conhecimento sobre a história de nossa terra... Vejam

( V -  AS ÚLTIMAS TELHAS)

O sino, instalado do lado direito da torre, é uma peça muito linda e bem conservada em relação ao tempo e a ação corrosiva da maresia. Mostra alguns adornos em relevo no seu bojo e é sustentado por um eixo central. Sendo “compensado” por um pêndulo de madeira, que lhe permite “dobrar”, isto é, girar sobre si mesmo realizando os dobrões ( sonorisação dos repiques das badaladas). E, por tudo isso,  serviu de inspiração para a pintura da décima sétima telha da exposição.

                                     

                                            O SINO DA DIREITA

 

Ao falar em sino, não poderia deixar de pintar uma das cenas mais importantes da construção da Igreja de Reis Magos - a instalação do sino na sineira principal, embora, o instrumento que se encontra, atualmente, na torre do templo não seja o original. Foi colocado na época do Império, pois no seu bojo vê-se em alto relevo, de um lado uma cruz e no oposto o Brasão do Império

                                      

                                      O SINO DA SINEIRA PRINCIPAL

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Constatei em um dos livros pesquisados, que o sino original, também de bronze, era bem maior que o atual, e fora retirado da torre para que fossem feitos reparos devido a uma rachadura... entretando, nunca mais se teve notícias do seu paradeiro.

 

Senti, também, a necessidade de pintar os fundos da Igreja e Residência dos Reis Magos, para mostrar que nessa parte da edificação voltada para o norte, existe um pátio - bem extenso -,  e que à época da construção, ficava junto a um barranco que terminava às margens do rio Reis Magos.

 

                                           

                                                  A PARTE DE TRÁS

 

Na realidade, serviu-me de preparação para a pintura da próxima telha... 

Não podia deixar de  mostrar que enquanto naquele pátio, a alegria e satisfação eram sentidas com os negros escravos fazendo as suas refeições e promovendo a integração com os gentios,  em outros,  só existiam melancolia e humilhação...eram lugares onde os negros recebiam as punições... E, então,  eu quis promover uma reflexão, e pintei o castigo no "Tronco"... uma das maiores atrocidades da escravidão.

Quis trazer à lembrança, que aquela crueldade não só servia como castigo corporal...  inúmeras vezes se prestou como castigo moral, ao deixar expoto o escravo dependurado, por oras, por dias... inerte... sem vida. 

 

 

                                            

                                                       O TRONCO

 

Na penúltima telha, voltei a produzir alegria e satisfação.

Com a pintura da fachada do prédio inteiro, quis mostrar uma espécie de resurgimento do contentamento, ressaltando a Igreja e Residência como Obra pronta, terminada.  

Por isso, procurei  destacar o frontispício triangular da construção, com o detalhe do óculo lobado (em formato de flor - uma das características do Barroco)... Também, não me esqueci de enfatizar a torre, a sua cúpula em formato de meia laranja e apoiada em pechinas e. principalmente. a  moldurada formada em seus quatro cantos pela cerca de alvenaria trançada que simetricamente a embeleza e a projeta.

 

A IGREJA E RESIDÊNCIA

 

É conveniente observar que nessa peça, a protuberância formada pelo joelho (como mencionei anteriormente) pode ser sentida, além de se notar claramente (até mesmo na foto) a curvatura comum existente na perna, na altura e pelo lado do joelho.

 

E para terminar o conjunto das telhas, pintei o Jogo da Capoeira... Primordialmente, por ser uma criação genuinamente brasileira (ideada pelos escravos Bantos, procedentes de Angola) e difundida por todas as Capitanias Hereditárias.

 

                                             

                                      CAPOEIRA...ORAÇÃO E LUTA

 

É interessante mencionar que certas atividades das tarefas executadas pelos negros, assemelhavam-se a golpes de lutas. Então, os escravos, escondidos nas Kapueras (palavra da línguaTupi, usada pelos índios para expressar os roçados abertos perto das senzalas) começaram a desenvolver uma espécie de jogo, interligando os movimentos dos exercícios que desenvolviam no trabalho aos passos das danças das Marradas (dança executada nas festas, pelos negros). Tal associação de movimentos deu origem a uma espécie de luta que, devido a astúcia e sagacidade, surpreendia aos capitães-do-mato em suas perseguições aos escravos. Como tudo começou nos roçados (Kapuera)  tal luta passou a ser chamada de Capoeira.

Porém, existem outras versões  para a origem do nome do jogo... não importa... Pois, é muito mais importatnte saber que a Capoeira, em verdade,  era a maneira mais eficaz dos escravos se sentirem livres. Ainda que a tenham criado como uma espécie de defesa pessoal, os seus movimentos propiciavam a geração de um estado de espírito, capaz de dominar a dor, de aliviar o sacrifício e de abrandar tantos males que a escravidão lhes causava. 

A ginga de corpo e o bamboleio das passadas, entremeando-se ao som dos atabaques e berimbaus, transformavam-se nas mais puras orações que conduziam os escravos até Zambi –   Deus... dos negros.

                            

                     

 

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( IV - MAIS TELHAS... E PINTURAS)

 

A argamassa tinha que ter várias texturas, de acordo com a sua utilização, no entanto não podia perder a consistência, por isso, havia que seguir uma mistura proporcional de  areia, de óleo de baleia, de cal de conchas e de barro, relacionada a seus empregos.

E levando em consideração a essa abordagem pintei, na décima terceira telha, um negro escravo fazendo a argamassa, ajudado por uma criança. Na pintura, também coloquei, ao fundo, outro serviçal assentando as pedras de recife, para construir uma das paredes da igreja, enquanto dois frades supervisionam o serviço.

 

               

                                   

                                 A ARGAMASSA

 

Em seguida apresento a telha onde está pintado o pavimento  superior da ala esquerda da Residência, ressaltando as colunas de sustentação que dão um ar muito pitoresco ao ambiente.

Era por esse corredor que os capuchinhos iam para os seus aposentos e para as “celas de recolhimento”, onde se enclausuravam para meditarem buscando um contato espiritual com o Criador.

                            

                               A ALA SINISTRA

 

A telha subsequente apresenta uma característica física (conforme eu disse que revelaria oportunamente) que me leva a acreditar que os artefatos foram, efetivamente, confeccionados pelos escravos e índios. Ela mostra uma protuberância, quase ao centro, como se fosse gerada pelo joelho de uma pessoa, fazendo-me crer que as peças eram, de fato, modeladas nas pernas e coxas dos negros, como vários descendentes de escravos me informaram..

Assim, como essa, encontrei outras que apresentavam a mesma característica, o que me levou a pintar a maneira de como as telhas eram moldadas.

 

                         

                                      O MOLDE

Alem, desse pormenor, as telhas têm a parte posterior bem lisa, enquanto que a inferior é totalmente áspera, dando a impressão de que, após terem sido modeladas na perna. eram retiradas dos moldes para serem expostas ao sol, quando recebiam o acabamento sendo alisadas tão somente na parte posterior.

É interessante relatar que alguns historiadores, que pesquisei, não expressam que as telhas eram feitas nas pernas, mas, dizem que tal trabalho, era uma tarefa individual do escravo, sendo seu pagamento feito por unidade elaborada – daí a “existência de certas marcas e desenhos como se fossem assinaturas, para as suas identificações.” Enquanto que os descendentes de escravos me tenham afirmado que jamais ouviram  falar de seus antepassados sobre remuneração de qualquer trabalho. Alerto, no entanto, que encontrei algumas peças com certas marcas na sua parte exterior,  o que me levou a não utilizá-las nas pinturas, mas, me parecem outro indício sobre a verdade da longevidade das peças.

Seguindo a sequência, apresento a pintura do corredor do lado direito da parte superior da Residência. Ele é simétrico ao corredor esquerdo, contudo, segue até a janela do edifício, onde se encontra um banco interrompido formando duas “conversadeiras”. Da janela vê-se a foz do rio Reis Magos – chamado de Nhumpanguá, por certos indígenas, de Apiaputanga   por outros nativos, ou de Sai-anhá, ainda por outras tribos.

 

                        

                               A ALA DESTRA

 

Para terminar a apresentação de hoje, apresento a telha que mostra como era concluída a confecção das telhas.

Ainda que estivessem moldadas, as telhas para serem utilizadas na cobertura dos telhados, tinham que passar pelo processo de queima para se tornarem impermeáveis.

 

                          

                             A QUEIMA DAS TELHAS

 

Muito hábeis no cozimento da argila e completamente diferentes dos índios Temininós - também pertencentes ao grande tronco Tupi e excelentes guerreiros que haviam chegados à Capitania em 1554, oriundos do Rio de janeiro - os Tupiniquins eram exímios fabricantes de artefatos de cerâmica... E essa habilidade, levou os jesuítas a aproveitá-los na queima das telhas modeladas pelos negros - Tapuyas  (de linguajar diferente) ou Tapiúnas (escuros) – como eram chamados pelos índios.

Não posso deixar de informar que as famosas “Panelas de Barro”, confeccionadas pelas paneleiras do bairro de Goiabeiras, é um legado deixado de herança pelos Tupiniquins, e seguem , até hoje, o mesmo processo artesanal.

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REIS MAGOS NAS TELHAS DE REIS MAGOS

( III - MAIS ALGUMAS TELHAS)

Dei explicações sobre as razões que faziam do índio Tupiniquim a primeira “mão de obra” usada pelos Jesuítas na construção da Igreja dos Reis Magos, e tais esclarecimentos implicam em dizer que o indígena era a única mão de obra existente, pois os negros escravos ainda não tinham sido “adquiridos” pelos Frades, embora já tivessem chegado à Capitania do “Espritosanto”, em 1550.

Na realidade, não demorou muito para acontecer, uma vez que os Capuchinhos, mesmo contra o tráfico de escravos, não se escusaram de comprá-los e os engajarem no trabalho em suas obras. E é importante informar que sempre foram utilizados nos serviços mais pesados que exigiam força muscular e resistência física. Dessa forma, como a matéria-prima usada na edificação, encontrava-se distante alguns quilômetros do lugar da obra, demandando um esforço enorme para consegui-la, os Jesuítas usaram o negro escravo par extrair as pedras dos recifes, nas praias, separá-las e carregá-las nas costas até o local onde estava sendo construída a igreja.

 Tal condição me induziu a pintar a cena e colocar a telha em sequência na Exposição.

                           

 

                    EXTRAINDO PEDRAS DOS RECIFES

 

Na telha seguinte, pintei o sino do lado esquerdo da torre. É a menor das três peças que se encontram na torre. Forjado em bronze já está bem corroído pelo tempo e se difere dos dois outros, por não executar dobrões (sons tirados nos giros do sino em torno de si mesmo), uma vez que se encontra fixado num travessão de madeira.

 

                      

                          O SINO DA ESQUERDA

 

As mulheres indígenas tinham como funções primordiais cuidar dos filhos, fazer a comida, trabalhar na lavoura e confeccionar redes e cestos... mas era comum que catassem conchas (itã ou també, em tupi) para serem utilizadas em enfeites e adornos.

Todavia, como tais invólucros calcários de mariscos constituíam um importante componente no preparo de “massa de pedreiro” - devido as suas propriedades aglomerantes - as índias passaram a apanhá-los para serem aproveitados na confecção da “cal de conchas”.

E a pintura, que segue, mostra essa nova incumbência feminina.

 

                                                   

                                CATANDO CONCHAS

 

 

Parece-me importante dizer que a construção da Igreja e Residência de Reis Magos, tanto pelo seu aspecto inovador em matéria de edificação, como por suas características, apresentou uma importância considerável influenciando a muitas outras construções, não só no estado do Espírito Santo, mas também em todo mo Brasil.

Para mostrar a harmonia da construção, a pintura da próxima telha, apresenta o conjunto formado pela torre e o telhado da Residência, que é visto do pátio interno da igreja, onde muitas orações  devem ter sido efetuadas pelos jesuítas... Mas, devo esclarecer que a palmeira não existia na época.

 

 

                                                                               

 

                                       A TORRE, O TELHADO E A PALMEIRA

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É interessante esclarecer que no início do relacionamento com os portugueses, os gentios se dispunham a trabalhar pela troca de determinadas bungingangas (botões, pedaços de tecidos, cacos de espelhos). Era o que os galegos chamavam de escambo. Porém, diante das recusas às negociações, os colonos tentaram impor um regime de escravidão aos índios... condição que jamais  deixaram acontecer e se negavam a desempenhar atividades que achavam impróprias aos seus costumes.  

Os frades se opunham ao procedimento dos lusitanos, e sem escravizar os nativos, os aproveitavam em atividades que se relacionassem com os hábitos que tinham, como aconteceu na elaboração da “cal de conchas” - uma espécie de “farinha” obtida com a trituração dos invólucros de mariscos feita no pirão.

Então, a cal, a ser usada como aglutinante na massa de pedreiro, era preparada pelos índios, em razão deles estarem acostumados a pilar o milho, para produzir o fubá (nas capixabas  - roças de milho em tupi).

 

                               

                     PREPARANDO A CAL DE CONCHAS

 

Mais um aspecto físico da construção dá sequência à Exposição.

Desta vez, a telha em que pintei mostra o conjunto das edificações visto da ponte que dá acesso à cidade de Fundão, comprovando que os jesuítas sempre escolheram locais privilegiados para construírem as suas igrejas e colégios... “Havia de ser na melhor posição e mais estratégica, de onde pudesse ser dominada toda a região”, como se referiu, Frei Braz Lourenço, substituto de Afonso Braz, na construção.

 

 

                                                    

                                      O LOCAL DA IGREJA

Por hoje chega... no próximo artigo apresentarei mais um tanto de telhas. Até lá.

 

 

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REIS MAGOS NAS TELHAS DE REIS MAGOS

( II - A SEQUÊNCIA  DAS OBRAS)

Concluídas as pinturas nas telhas, a primeira ideia foi de apresentá-las ao público.

Todavia, o meu intento não se resumia em somente mostrar o trabalho artístico que fizera... com certeza ia um pouquinho mais além, queria que as minhas pinturas servissem de resgate de fatos ocorridos por ocasião da construção da igreja, de forma a manter viva a memória de parte da História do Brasil...  do estado do Espírito Santo...  do Município da Serra...  quase sempre deixada de lado, principalmente devido a falta de conhecimentos e informações.

E para alcançar esse objetivo, não só havia que dispor as peças - que compõem a Exposição - numa sequência relacionada às fases da construção da igreja, como colocar junto a cada telha, um memento onde seriam transcritas informações históricas peculiares ao que a pintura transmitisse.

Essa explicação justifica o porque de “Caminho para Deus”, que dei à primeira telha pintada, apresentada anteriormente.

Dessa forma, na segunda telha, pintei o conjunto que compõe a Igreja e a Residência de Reis Magos... e no documento que a acompanha, transcrevi detalhes sobre a construção, localização e outras informações complementares pertinentes à edificação.                  

                                                 

         A IGREJA E RESIDÊNCIA DE REIS MAGOS

Parece-me importante esclarecer que ao pegar as telhas para usá-las como tela, recebera informações que elas haviam sido confeccionadas pelos escravos e nativos da região e que tinham integrado os primeiros telhados da Matriz de Nova Almeida, construída no século XVI e XVII. No entanto, não obtive confirmação de tal informação, uma vez que não consegui realizar o teste de carbono 14, para constatar a idade real das telhas, contudo, devido a certas características físicas que os artefatos apresentam (que serão mencionadas oportunamente) não me escusei em mostrar que elas já constituíam, por si mesmas, verdadeiras obras de arte, e então, as exponho como autênticas peças artísticas de cerâmica, sustentadas por pequenos pedestais, confeccionados artesanalmente, que as mantêm em cima de expositores de metal                             

             

                                                      

              Pedestal e Expositor desmontável de metal

Dando seguimento ao conjunto, encontra-se a obra onde busquei retratar a idealização da Igreja de Reis Magos. Nela, pintei Frei Afonso Braz desenhando os “traços do edifício” - como eram denominados os planos das construções jesuíticas -, numa choupana que lhe servia de sala de trabalho. (Não é o seu retrato, pois, não logrei encontrar o seu rosto verdadeiro, mas, as poucas descrições que encontrei levaram-me a imaginá-lo assim).

                  

              PLANEJANDO A CONSTRUÇÃO

 

Em verdade, os Jesuítas jamais deixariam de dar um valor considerado ao símbolo de sua religião: a Cruz.

Assim imaginando, busquei colocá-lo na sequência da exposição, fazendo a pintura de uma das partes da construção, de onde se vê destacada essa importante insígnia. Porém, busquei também salientar o Sino - instrumento usado para transmitir, ao público em geral, as diversas mensagens. É interessante mencionar que as difrentes maneiras da sonoridade do instrumento e o número de badaladas davam os significados pertinentes às informações .

                                   

                                      A CRUZ E O SINO

 

Em seguida aparece a telha em que se vê pintado um índio em atividade, esculpindo o Retábulo da igreja (parte posterior do altar onde é colocado o Sacrário). Ainda que a feitura dessa peça tenha sido executada bem depois da Igreja e Residência terem sido construídas, quis mostrar que os nativos foram  os primeiros indivíduos a serem usados, pelos frades, como serviçais ou “operários”. E é bem razoável que tal utilização, tenha acontecido nas construções Jesuíticas, especialmente na da igreja de Reis Magos, uma vez que os nativos já se encontravam- à disposição - na localidade... mas também, por constituírem o alvo direto da missão religiosa dos Capuchinhos. É bom não esquecer que os Jesuítas vieram para o Brasil, com o fim específico de converter o gentio à Santa Fé Católica... Missão determinada pelo próprio Rei de Portugal D. João III , e transmitida diretamente, pelo Governador Geral Tomé de Souza.

Tal motivo, era o responsável pelas construções jesuíticas serem compostas de duas partes: o templo e a escola de catequese.     

                             

                          ENTALHANDO O RETÀBULO

Como relatei que as construções jesuíticas eram compostas pelo templo e pela escola de catequese, vejo-me na obrigação de informar que as edificações eram sempre construídas por partes, primeiro a igreja e depois as demais dependências. E essa, é uma das informações constantes do memento que acompanha a obra que dá sequência à exposição e se vê abaixo.

 

                                           

                             PARTE SUPERIOR DA RESIDÊNCIA

Ficarei por aqui, para não ficar cansativo... Ainda há muita coisa para ser mostrado.

 

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REIS MAGOS NAS TELHAS DE REIS MAGOS

(A PRIMEIRA OBRA)

 

 

A partir desse mês,  inicio a apresentação das vinte e três obras que fazem parte da Exposição “REIS MAGOS NAS TELHAS DE REIS MAGOS”.

Assim denomino a mostra,  em razão das pinturas terem sido efetuadas em telhas, originalmente confeccionadas  por negros escravos e índios Tupiniquins, e que fizeram parte dos primeiros telhados da Matriz de Reis Magos, construída no decorrer dos séculos XVI e XVII, na então Aldeya de Stº Inácio e de Reis Magos, Capitania do Espritosanto - (atual Município de Nova Almeida, Serra, ES).

Na realidade, tudo começou no mês de junho de 1999, quando minha prima Delma, vindo do Rio de Janeiro, nos fez uma visita. Minha mulher e eu havíamos mudado para nossa casa de praia no balneário de Jacaraípe, situado na cidade da Serra, Espírito Santo, enquanto aguardavamos a entrega - atrasada por quase três anos - do apartamento em que hoje residimos. É bem verdade que queríamos dar maior prazer  à visita de nossa prima, por isso, resolvemos  levá-la à cidade vizinha de Nova Almeida, para conhecer a Igreja de Reis Magos - segundo santuário mais antigo do estado - que teve a sua construção iniciada em 1569 e inaugurada em 1615.

Só que ficamos muitos frustrados, devido a visita ter sido impedida... a igreja passava por outra reforma. Contudo,  nos foi dada permissão para entrarmos no pátio do templo.

Eu fiquei surpreendido... todas as telhas que faziam parte dos telhados da igreja, haviam sido retiradas e estavam jogadas no chão. Segundo informações, algumas delas estavam quebradas, propiciando que goteiras surgissem com as chuvas e causassem o apodrecimento do forro... motivos que levaram o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN substituí-las...

Parecia-me óbvio que as telhas danificadas fossem substituídas... mas o que me surpreendeu, é que todas elas seriam trocadas. O Instituto não levou em consideração que as peças tinham sido confeccionadas pelos negros e índios da região, há quase quinhentos anos... sendo parte integrante daquele patrimônio histórico.

Minha prima, também estava estarrecida, uma vez que eu lhe havia contado a história da igreja. E, ao ver as telhas assim jogadas pelo chão, olhou bem para elas e, ato contínuo, olhou para mim... e, num jeitinho que lhe é muito peculiar, falou: “Isso, dá para fazer alguma coisa”.

Foi uma verdadeira transmissão de pensamento... e o bastante para despertar, em mim,  a ideia de aproveitar aquelas telhas – históricas, pela própria condição natural - e transformá-las em telas onde reproduziria algo sobre os escravos e índios, seus confeccionadores... Imaginei que, pelo menos, algumas telhas originais deveriam permanecer na igreja, para lembrar a sua procedência... nem que fossem transformadas em obra de arte (ainda que já fossem).

Andando com cuidado para não tropeçar nos artefatos, não demorou muito, para encontrarmos o Encarregado do Patrimônio... aquele mesmo cidadão que me havia permitido entrar na igreja, quando ela estava sendo reformada em 1986. (Eu prometi que iria falar dele, em outra ocasião... agora, aí está). José Bento e eu conversamos um pouco... há algum tempo não nos encontrávamos. Então, lhe perguntei qual seria o destino das telhas que ali estavam  jogadas pelo chão. Ele me respondeu que o IPHAN deveria levá-las para a sede, mas não saberia dizer o que mais seria feito.

Disse-lhe da minha intenção de aproveitar algumas para fazer determinadas pinturas e depois expô-las, permanentemente, na própria Igreja. Ele deu um sorriso e perguntou: Quantas?

Uma porção, respondi com outro sorriso... e a autorização me fez recolher trinta e duas peças. (Dessa vez, nem pensei em oferecer nada).

Ajudado pela prima, procurei pegar as mais danificadas, pois o IPHAN poderia resolver aproveitar as que estivessem perfeitas e reutilizá-las. Sem perda de tempo, colocamo-las no carro e, após nos despedir do Encarregado do Patrimônio, voltamos para casa.

 

    

                         

                             TELHA ORIGINAL

 

No decorrer da semana, voltei à Nova Almeida e pedi ao Sr. José Bento que assinasse um documento de doação das telhas, mencionando o objetivo de seu uso. Gentilmente assinou, deixando-me oficialmente documentado quanto à utilização das peças de argila.

Durante os dias subsequentes pensei em que motivos me inspiraria para pintar as telhas... Meu objetivo era não macular aquelas peças, que no meu entender já constituíam verdadeiras obras de arte, pois representavam a habilidade dos negros escravos e a arte dos índios da região - exímios produtores de artefatos de argila. Cabe aqui mencionar que as famosas panelas de barro, confeccionadas em Vitória,ES, são legados deixados pelos Tupiniquins.

Após minha prima regressar ao Rio, passei a fazer alguns esboços do que pretendia pintar. Chegara a conclusão que deveria reproduzir a “Via Crucis” nas telhas, imaginando ser uma forma de recolocá-las na igreja, ainda que fosse como adorno... então, me pus a desenhar Jesus sendo achincalhado, no seu julgamento... no entanto, calculei que poderia dar mais expressão à obra se pintasse um escravo ou um gentio no lugar do Cristo... seria uma forma de mostrar o escárnio que eles, também, haviam passado, devido à escravidão.

Feitos os desenhos, achei que devia mostrá-los a minha mulher ... ela não entendeu bem o porquê do negro e do índio no lugar de Jesus Cristo, já que eu iria pintar as cenas da “Via Sacra”. Senti na sua reação, que a minha ideia não seria interpretada como eu gostaria... e, quiçá, poderia até ser julgada como profana... o que jamais passou pela minha cabeça.

Guardei os desenhos sem dar continuidade ao que pretendia... e passei, então, a conjecturar em retratar as fases da construção da igreja... dessa maneira, estaria prestando uma homenagem aos Jesuítas, aos Nativos da região e aos Negros escravos.

Certamente conhecia muito pouco sobre construções jesuítas no Brasil, e para fazer um trabalho perfeito, havia que pesquisar tudo que existisse a respeito. Não deixei por menos... Comecei a  busca no estado, tornando-me frequentador assíduo da biblioteca da Universidade Federal do Espírito Santo - UFES, do Arquivo Histórico e outras fontes de consulta que me fornecessem informações precisas. Mas, senti a necessidade de promover algumas pesquisas de campo, buscando subsídios com descendentes de escravos e descendentes de índios, para complementar as pesquisas bibliográficas. Procurei encontrar mais dados, no Museu Histórico e no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro. E, inclusive,  logrei conseguir novas informações na Universidade de Brasília - UNB e no IBAMA, no Distrito Federal... Então, depois de, aproximadamente, dois anos de investigações, senti-me didaticamente preparado para realizar o trabalho que idealizara.

Já havia recebido o apartamento e os aborrecimentos não mais causavam tanto desgastes... com certeza, eu podia realizar com mais apreço as pinturas que havia ideado. Então, me pus a pintar a primeira telha... seria a obra inicial do grande trabalho em que mostraria cenas da construção e de partes físicas da igreja.  

                                                               

                                 

                                 “CAMINHOS PARA DEUS”

 

Dei-lhe esse nome considerando que nela estão retratados,  individualmente caracterizados  por sua fé religiosa, os personagens que fizeram parte da história da construção da igreja. Com ta configuração quis mostrar que, independente da crença que professavam, todos estiveram empenhados em edificar a Casa do Criador. Por isso, ao pintar as nuvens, busquei que formassem, em contraste com o firmamento, a esfinge de Deus, de forma a confirmar o significado exato da expressão que lhe dava nome.

Procurei ainda, dar um toque especial, de maneira que a pintura desse a impressão das telhas terem sido quebradas, para serem extraídas de dentro delas as cenas ou as partes físicas do templo, que haviam sido pintadas.

Quando terminei de pintar todas as vinte e três telhas, elaborei um Projeto para que as obras constituíssem uma exposição itinerante, que viajaria pelo Brasil, terminando a sua trajetória na igreja de Reis Magos, onde permaneceria exposta continuamente.

Mas isso, eu contarei ao continuar apresentando as demais telhas... da Exposição

 “REIS MAGOS NAS TELHAS DE REIS MAGOS”.

 

 

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A TROCA DE ARTES

 

 

Sem dúvida, a minha fama com pintor cresceu enormemente, dentro da família, depois que o pessoal do Espírito Santo viu a pintura da igreja de Reis Magos. Todos queriam um quadro. Todavia, o que mais me impressionou foi a atitude de uma sobrinha (para ser mais correto - esposa de um sobrinho). Percebendo que eu não procedia de maneira igual a meu pai, que distribuía suas obras a todos os parentes, fez-me uma proposta muito sutil: “trocar um quadro por um suéter que ela iria fazer para mim”.

Essa sobrinha tinha uma característica bem marcante, além do sotaque acentuado que identificava sua origem, ela não conversava... simplesmente, ela “perquiria”. Efetivamente, ela não mantinha um diálogo... sua conversação consistia, exclusivamente, num solilóquio inquiridor... “Por quê? Pra quê? Como? Quando?” Quanto custou?...  sempre davam início ao "perguntório".

E dessa forma, ao ver os meus quadros, fez-me tantas perguntas, que me deixaram atônito. “Quando foi que você começou a pintar? Com quem aprendeu? Como você pinta? Por que você pinta? Você estudou pintura? Quanto tempo leva para pintar um quadro? Você vende seus quadros? São caros?“...

Com o convívio, deu para compreender que a característica indagadora implicava em outras propriedades... as investigações, em verdade, ocultavam um interesse diferente do que  receber  as respostas... Havia, por trás das perguntas, um interesse de usufruir... de possuir... de ter... de obter.  Não tenho dúvidas que a sua origem humilde e a sua formação motivavam tal atributo pessoal. Como diz Maslow, “não existe comportamento se causa”.

E aí, estava a razão da proposta em trocar um casaco de lã por uma pintura.

Primeiro, sorri diante de sua pretensão “ingênua”,  porém, não lhe respondi. A proposta me foi repetida. E eu lhe disse que iria pensar.

Nas ocasiões em que nós nos reencontráramos, a proposta era reiterada.

Tive vontade de lhe perguntar se eu não pintasse como pinto, ela faria a mesma proposta...  não tive coragem, e acabei concordando. Mas ainda tive que ouvir como deveria pintar o quadro... “uma janela aberta, de onde se vê o mar, um barquinho à vela e o sol nascendo lá no fundo”.

É óbvio que jamais iria atender tal “petição”... meu trabalho nasce de dentro de mim.

Algumas semanas passaram e, no primeiro encontro da família, a moça queria saber se o quadro já estava pronto. Mais uma vez sorri. 

O tempo continuou correndo, o fim do ano aproximava-se e consequentemente o Natal.

Seria a primeira festa Natalina que iríamos festejar juntos. Então, fizemos uma reunião prévia para estimar os pormenores, sendo inclusive aventado a realização de um “Amigo Oculto” – aqui denominado de “AMIGO X” . A aprovação foi unânime e, de imediato, fizemos o sorteio. Nomes escritos em pedacinhos de papéis e “Alea jacta est”, como diria Júlio César – a sorte está lançada.

Todos sortearam e guardavam em segredo o nome de seu Amigo X... Por incrivel que pareça, eu tirei a dita sobrinha como minha “AMIGA X”... foi uma coincidência maravilhosa...

Não, não houve nenhuma tramóia... Foi mesmo coincidência, eu "juro".

Como havia terminado o quadro - produto do escambo ajustado – eu mandei colocar uma moldura, bem adequada à pintura, que seria o presente de Natal.  O seu valor estava bem acima do estimado como teto mínimo para os presentes, então juntaria o útil ao agradável.

O quadro - “Tiradentes, do alpendre” -  apresentava  um casario visto da varanda de uma casa em Tiradentes, nas Minas Gerais, contrariando a "recomendação", mas,  ao vê-lo, com certeza, ficaria satisfeita.

Porém, uma semana antes do dia 24 de dezembro, quando regressava do moldureiro, bem perto de casa, avistei uma pequena tela de Eucatex, toda branquinha e já emoldurada, jogada no meio da rua. Como um raio caindo em minha cabeça, surgiu a ideia de aproveitar aquela tela para brincar com a sobrinha... Iria pintar o tal quadro que ela havia pedido... de forma bem hilária...e logo comecei a bolar como ficaria. Enquanto o imaginava, falei com os meus botões: Será que ela me dará o tal suéter em troca?

Apanhei o aglomerado e o levei para casa. Limpei bem a tela e pintei a grande “Obra”.

Fiz o melhor possível, para se parecer com um trabalho executado por uma criança... ingênua... desprendida de qualquer interesse... a não ser, o de mostrar a sua "maravilhosa" realização.

 

 “Um barquinho sob o sol da manhã” – esse nome estaria bem a calhar para promover a barganha com o casaco.

Naturalmente, tudo que havia planejado, para presentear a sobrinha, no Natal, permaneceria... a única modificação seria o “QUADRO”, pois até a moldura continuaria sendo o presente...

E, então, a noite mais esperada daquele ano, chegou.

A festa se fazia maravilhosa...todos os familiares reunidos numa alegria sem par... Papai Noel - em pessoa - já havia entregue  os brinquedos à garotada que fazia uma algazarra contagiante, e a turma madura não ficou atrás.  A ceia – com iguarias deliciosas trazidas por todos –  depois de saboreada, com enorme prazer, deu lugar à revelação dos Amigos X.

Como anfitrião foi me dado o privilégio de começar... E tão logo, comecei a falar das características da contemplada, sem quaisquer dificuldades, todos identificaram-na de pronto.

Peguei o presente embrulhado com papel dourado e dei à sobrinha.

Enquanto ela o abria, numa expectativa exuberante, expliquei que o presente de Natal era a moldura... o quadro era para ser trocado, de acordo com a sua própria proposta, por um suéter que ela fizera.

Ao verem a pintura, todos riram... Diante da surpresa, o rosto da sobrinha estampou uma enorme decepção... impressionante desilusão...  Por certo, aguardava uma VERDADEIRA obra de arte... um quadro que realmente apresentasse uma técnica perfeita... uma pintura que efetivamente traduzisse o valor prestimoso do pintor...

Jamais esperava receber uma pintura como aquela... diferente das que admirara na minha casa... sem qualquer expressão artística... totalmente pueril... 

Rapidamente, fui até o quarto e trouxe o outro quadro... (o que, efetivamente, seria trocado pelo suéter). Mais uma vez, todos riram. Entreguei-o à sobrinha e confirmei que o presente era a moldura. Juntei um cartão de Natal - elaborado por um pintor sem mãos - para lhe desejar Feliz Natal, no qual também expressei: O valor de uma obra está na grandeza de sua execução, mesmo que não apresente uma  técnica aprimorada.

 A sobrinha leu meio confusa...  Com certeza, todos entenderam a minha mensagem... e a festa continuou ainda mais linda... muito mais harmoniosa... muito mais aconchegante... até o dia amanhecer.

 

Quero terminar pedindo desculpas por não colocar, nesse meu relato, a foto do quadro “Tiradentes, do alpendre”... ainda que busque mostrar, nessa página, as obras que fiz e as razões que me levaram a executá-las, pareceu-me deselegante pedir à sobrinha uma fotografia dele.

Contudo, quero deixar bem claro que o casaco que troquei, é uma EXUBERANTE OBRA DE ARTE ... pois, em sua confecção, estão revelados o afeto e o carinho que traduzem a delicadeza e a pureza da ARTE DE TECER.

 

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O PRIMEIRO QUADRO CAPIXABA E A LIÇÂO DE MORAL

 

Posso dizer que logo ao cheguar no Espírito Santo, nos meados de 1986, de imediato, comecei a visitar os recantos do estado... e fiquei deslumbrado... eram tantos lugares... que, por suas originalidade e beleza, sem qualquer contestação,  mais cedo ou mais tarde, seriam motivos a novas pinturas.

É bem verdade, que não esquecera de que, em qualquer espaço do Brasil, não faltam paisagens lindas para serem retratadas, todavia, como era um recém-chegado à terra de Vasco Coutinho, realmente, tudo me impressionava: as grandes pedras nas praias da Ilha do Boi; a ruína na ilha do Frade; a singeleza da Igreja de Santa Luzia, na Cidade Alta; a histórica escadaria de Maria Ortiz; o cais do sistema aquaviário, no Centro (naquela época, era bem ativo, com lanchas saindo e vindo de Vila Velha); os aspectos pitorescos do Parque Moscoso... e uma porção de outros pontos acalentadores, tanto dentro de Vitória, como nas outras cidades.

Porém, a Igreja de Reis Magos - construída pelos jesuítas, com o árduo trabalho de negros escravos e nativos da região, por volta de 1569, no balneário de Manguinhos - devido a sua simplicidade, acabou por me seduzir completamente... Principalmente o seu interior.  Repleto de particularidades...  cheio de luzes e de sombras... totalmente ilustrativo... qualquer pintor ficaria enebriado. O fascínio foi tão grande que me vi induzido a pintá-lo.

E assim, surgiu o meu primeiro quadro capixaba...  produzido com muito carinho, aqui nesse estado que eu adotei como novo domicílio.

 

 

É interessante lembrar que logo na primeira visita à igreja de Reis Magos, eu fiz um esboço do quadro. Pegara no carro o meu bloco de desenho e me pus a riscar. No entanto, alguns pormenores, que não consegui desenhar com perfeição, precisavam ser refeitos e obrigaram-me a uma nova visitação. E, então, na primeira oportunidade voltei à igreja. Tinha que verificar os detalhes. Mas, por incrivel que pareça, de pronto, encontrei um obstáculo enorme para adentrar em seu recinto... a paróquia de Reis Magos entrara em reforma... e mesmo fazendo  das “tripas, coração”, não consegui ver os pormenores que necessitava constatar.

Expliquei ao engenheiro responsável que eu era artista plástico e estava pintando um quadro, cujo motivo era o interior da igreja, por isso, precisava rever as colunas que sustentavam a parte superior do templo, para reproduzir com exatidão as suas características.

O engenheiro, inflexível, não abriu mão e disse-me “ser impossível”.

Busquei mostrar que a minha presença não iria interferir em nada. Mas, nada, também foi a resposta do restaurador... "nada de entrar". Pedi outra vez... e a cara de "pouco amigo" do doutor, deixou-me desolado. 

Contudo, um senhor - que mais tarde, vim saber ser o encarregado do patrimônio - que assistira a minha súplica e observara a minha angústia, em querer buscar os detalhes da igreja, para tornar o meu trabalho mais preciso, piscou o olho para mim e baixinho disse-me que aguardasse... Pensei logo no “jeitinho brasileiro”... e, mesmo sendo contra esse tipo de “arrumação”, aguardei calmamente a conclusão... além do mais, não tinha outra escolha.

Na hora em que o chefe da restauração saiu para almoçar, o encarregado chegou até onde eu me encontrava, chamou-me e disse para eu entrar... Não só, me permitiu o ingresso, como ficou à minha disposição, acompanhando-me durante todo o tempo que levei para refazer os esboços das partes internas da igreja.

Quando terminei, ainda que meio sem graça (porque não é meu costume) entreguei-lhe uma gorjeta e recebi uma tremenda lição de moral: “Não! Eu não fiz isso, por uma propina qualquer. Gostaria que soubesse que eu amo a arte e vi o seu desespero para realizá-la... eu só quis ajudá-lo e nada mais”.

Confesso que não sabia onde colocar a cara e, mais sem graça ainda, pedi-lhe desculpas, agradeci e fui embora (acho até que saí correndo de tanta vergonha).... Entretanto, vejam só como é a vida... acreditem, em outra ocasião, o mesmo José Bento - encarregado do patrimônio -, mantendo a mesma postura de moral e honestidade,  viria a me ajudar novamente...mas isso, é outra história... que ainda terei oportunidade de contar.

 

 

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A PRIMEIRA NATUREZA MORTA 

 

Eu havia recebido o primeiro ordenado como Aluno a Oficial da Polícia Militar do Distrito Federal... Mil, quatrocentos e sessenta e quatro cruzeiros e cinquenta e dois centavos. 

Uma sensação de felicidade explodia em meu peito... eu me sentia o “cara mais realizado” da face da terra...

O sábado chegara e, concomitantemente, o licenciamento semanal mais esperado... Eu - com dinheiro no bolso - iria comprar "tudo" o que eu quisesse...

E busquei realizar o meu desejo... Comprei um par de sapatos de verniz preto... com certeza,  usando tais sapatos (comprados na sapataria Clark) iria ficar bem mais apresentável...

E não fui egoísta... comprei, também, uma sandália de presente para minha mãe e uma blusa vermelha, para minha irmã Léa...  e, além disso, não esqueci do isqueiro,  para o meu pai...

Eu, realmente,  me sentia realizado. 

Do troco, separei o suficiente para o custeio das passagens, nos licenciamentos, e para os cigarros (como eu era idiota!). Comprei, ainda, umas frutas e as levei para casa e o restante entreguei à mamãe, para as despesas do mês.

Sem dúvida alguma, foi um dos dias mais felizes da minha vida... Desde pequeno desenvolvera o costume de ajudar nas despesas de casa... no início, eram apenas os trocados que conseguia com a venda das pipas que fazia... mais tarde, eram os pagamentos que recebia com as aulas de recuperação, ministradas à garotada que ficava em segunda época... mas aquele dinheiro era  um dinheiro diferente... era o meu primeiro ordenado... ele era o meu primeiro ganho como um profissional... e tal condição me tornava um homem com muita responsabilidade.

Ao Chegar em casa, bem depois do meio dia, levando os presentes, todos me receberam satisfeitos e compartilharam da minha grande alegria. Mamãe, de imediato, lavou e  arrumou as frutas numa velha fruteira, colocando-a no centro da mesa. Olhou bem o arranjo e logo sugeriu a papai que o pintasse... O “velho” riu e me disse baixinho: “Tua mãe continua a mesma mandona! Sempre dizendo o que eu devo pintar”... e juntos caímos na gargalhada. O restante do dia seguiu sem qualquer outra novidade e à noitinha fui dar uma volta pelo bairro.

No domingo, a macarronada com ovos cozidos e carne assada não tinha como faltar e o almoço esteve maravilhoso. Como à tarde, apenas tirara para descansar, acabei pegando o meu velho caderno de desenho e comecei a fazer algumas caricaturas. Lembrando da "ordem" que mamãe havia dado a papai, pensei em fazer uma surpresa à ela, pintando-lhe o quadro lá na Escola, e passei a fazer um esboço das frutas. Poderia trazê-lo no sábado seguinte, quando voltasse à casa.

Fiz um rascunho de como eu achava que deveria ser pintado e o guardei na maleta.

A noite chegara e logo a hora de voltar à Escola se aproximava. Tomei um banho, arrumei a as minhas roupas e lá estava eu indo para a estação pegar o trem... havia de chegar antes da meia-noite,  se não,  estaria arriscado a ficar sem o licenciamento da semana seguinte.

Na segunda-feira, a manhã seguira como sempre. alvorada às seis, café às seis e trinta, e às sete, aula. Confesso que fiquei pensando em como pintar o quadro que eu imaginara...já havia levado tintas e pincéis, para usar nas horas em que tivesse oportunidade. De repente, eu dei um salto na cadeira... lembrei-me de um detalhe... um simples detalhe que eu havia esquecido: não tinha tela,... e, também, não tinha como comprá-la - mesmo que eu tivesse dinheiro suficiente para adquiri-la -  a Escola funcionava em regime de internato e não havia como me ausentar.

Pensei: E agora? Todavia, não levei muito tempo para deslumbrar uma solução. Lembrei-me da carpintaria do Regimento de Cavalaria (onde a Escola estava localizada)... não que lá, fosse encontrar uma tela a minha disposição, mas poderia arrajar um pedaço de madeira compensada e transformá-lo em tela. Então, tão logo que acabei de almoçar, corri até à carpintaria e dei de cara como o sargento marceneiro. Perguntei-lhe se era difícil conseguir um pedaço de compensado, para fazer um trabalho. Com a maior boa vontade, ele mesmo cortou a madeira e me entregou. Como havia aprendido a preparar as telas de tecido e de madeira, com papai, rapidamente executei a tarefa... E enquanto os demais alunos dormiam, eu fazia a minha parte.

No terça, após o estudo obrigatório da noite, fiz o esboço a lápis e comecei a pintar. Na quarta continuei e,  na quinta, o quadro estava pronto. Guardei bem guardado no meu armário e esperei que o sábado chegasse.

Consegui com um colega um papel de presente e embrulhei o quadro. Na formatura, lá estava eu aguardando a revista... Ninguém sabia o que o embrulho continha, uma vez que ninguém também me havia visto pintar o quadro. O Tenente Neto, Oficial Comandante do meu Pelotão, responsável pela revista, indagou-me sobre o embrulho e eu reswpondi que era um quadro que eu tinha pintado. Fez-me desfazer o embrulho.. Pegou o quadro, olhou  e mostrou para toda a turma...

 

E eu esclareci que o havia pintado à noite, depois do silêncio,  para oferecê-lo de presente a minha mãe. 

Naquela época, não se falava em “bullyings”, mas a gozação foi geral... com os meus companheiros batendo palmas.

O Oficial, de imediato, ordenou que parassem e, diante de todos, me elogiou... mas, em seguida, chamou-me à atenção de que o horário do silêncio tinha que ser respeitado, principalmente porque as horas de sono eram indispensáveis, para que os assuntos das aulas fossem melhor assimilados.

Pensei que fosse perder o licenciamento, porém, fui dispensado. 

Chegando em casa,  fiz a surpresa à mamãe. Primeiro deu um sorriso... um sorriso maravilhoso e, depois,  pôs-se a chorar. Eu a abracei sem dizer uma só palavra, mas me lembrei do alerta do Tenente... E  o fim de semana passou depressa... No domingo, no mesmo horário, lá estava eu de volta à Escola.

Na segunda feira, as atividades, matutinas e vespertinas, transcorreram sem quaisquer alterações, mas, o sorriso de mamãe permanecia vivo em minha mente... eu me sentia gratificado... nem a seriedade das aulas, nem a energia dos exercícios de educação física, nem tampouco a marcialidade da ordem unida, me fizeram esquecê-lo...  No entanto, após o expediente, quando um soldado me avisou que o Tenente Neto queria falar comigo, na sala dele, fiquei apreensivo imaginando o que o Oficial (o mesmo de sábado) queria comigo... Bati na porta, pedi licença e entrei... Apresentei-me perfilado e prestando continência - como ditavam as regras militares - Então, deparei com um quadro que estampava uma carga de cavalaria... e o tenente sorriu e me disse: Este, eu estou pintando... o que é que você acha?  Sorriu de novo e me perguntou: Você que gosta de pintar, quer ser sócio da Associação Brasileira de Belas Artes... Lá você terá uma boa oportunidade de se preparar para o vestibular da Escola Nacional de Belas Artes.

Quatro anos depois, logo após a minha formatura na Escola de Formação de Oficiais, eu aproveitei a oportunidade e prestei o vestibular.

 

 

 

 

 

 

 

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“MARINHEIRINHA ESPANTADA”

 

Em 1958, depois de ser aprovado no vestibular, comecei a frequentar a ENBA - Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, integrando a turma do Curso de Professorado de Desenho, e durante os quatro anos que lá estive estudando, até me formar, as aulas de pintura foram efetivamente muito poucas... porém, em compensação, as de desenho geométrico, de perspectiva, de desenho artístico, de sombras e das demais técnicas,  não deixaram nada a desejar, o que me possibilitou constatar que para se pintar, realmente, é importantíssimo primeiro aprender a desenhar.

Não que isso, proporcione a compreensão adequada do uso das tintas e da escolha perfeita dos matizes a serem empregados, nem tampouco, do manuseio correto dos pincéis e de outros instrumentos indispensáveis; no entanto, propicia que a estrutura da configuração, a ser pintada, seja impecavelmente aplicada e ajustada à tela...

Todavia, é necessário reconhecer que para ser uma obra perfeita, faz-se imprescindível, juntar-se à formação técnica, a sensibilidade, a aptidão e a criatividade, predicados que surgem e crescem dentro do ser humano de forma abstrata, sem que realmente exista uma aprendizagem científica capaz de criar... É o que, popularmente, todos chamam de DOM.

Contudo, o aprendizado que recebi foi deveras importante para mostrar-me como empregar, mais acertadamente, todo o legado herdado de meu pai... e além disso, fez-me aproveitar melhor e com mais inventividade as inspirações obsequiadas por Deus.

Dessa maneira, pude constatar que um simples detalhe, bem acentuado, numa pintura consegue dar anima ao que o pintor quer transmitir... e sem contestação, isso, é o desenho que possibilita, ou melhor, propicia.

É interessante reparar a existência de vida ao se perceber as minudências, em uma pintura...  Não é incomum que, ao se olhar os detalhes em uma árvore pintada num quadro, ou as sutilezas de um simples caminho, consiga-se sentir na paisagem, o vento balançando a copa virente ou até mesmo levantando a poeira do chão...

Numa marinha,  as ondas acentuadas fazem sentir a força do mar bravio batendo nas pedras como que buscasse quebrá-las impetuosamente, ou a imensidão do oceano azul metamorfoseando-se ao anil celeste e gerando a interpretação de uma calmaria repleta de quietude...  

Num rosto, as rugas bem delineadas ressaltam a dureza do tempo implacável, enquanto um sorriso, bem arquitetado, induz a percepção de uma alegria incontida...

Nas mãos, as posições em que são apresentadas, criam a impressão da paz implorada em oração, de um pedido desesperado obcecando um esmoler ou, quiçá, de um carinho aconchegante traduzido no acalanto...

Todas essas minúcias, é o desenho que propicia serem representadas.

E foi aproveitando o desenho, que entrei na minha primeira coletiva, com o quadro que denominei "MARINHEIRINHA ESPANTADA".

Minha esposa, quando ainda éramos noivos, dera-me um retratinho seu de quanto tinha apenas quatro ou cinco anos de idade. Era uma fotografia 3x4, em preto e branco, e fora tirada por um “lambe-lambe”.

"Lambe-lambe" era um antigo fotógrafo que fazia fotos nas praças do Rio de Janeiro, geralmente para aproveitar os cenários naturais...  E como era muito comum que os pais levassem, aos domingos, os seus filhos para passearem no Campo de Sant'Ana, e se  divertirem correndo atrás das cotias pelos caminhos sinuosos do parque, muitos fotografos,  aproveitavam a ocasião e faziam ponto, naquele local, que ficava bem defronte do, então, Ministério da Guerra e perto da Estação de trens da Central do Brasil.

Resolvi, então, pintar o seu  rostinho observando foto... contudo, não deixei de ressaltar um simples detalhe -  os seus olhinhos arregalados - que ela apavorada deixara escapar ao ver o velho fotografo cobrindo a cabeça com um pano preto e enfiando-a lá dentro da máquina fotográfica.

Sem dúvida alguma, qualquer criança se amedrontaria diante de tal cena... Mas, graças ao seu espanto, consegui a primeira menção honrosa em minha vida de artista plástico.

É interessante relembrar que os fotógrafos eram apelidados de "lambe-lambe", porque para garantir a qualidade do trabalho, eles colocavam a ponta da língua nas fotos, durante a lavagem que faziam, tanto para avaliar a qualidade da fixação, como a da própria lavagem.

As pessoas, leigas na arte de fotograr, ficavam admiradas com aquela cena e como não conseguiam entender por que aquele cidadão, a cada instante, dava uma lambida nas fotografias, passaram a chamar os “Fotografos de Jardins” de “lambe-lambe”.

 

 

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 AS POESIAS

 

REALISMO... DEVANEIOS

 

 

Quando menino - ainda bem pequeno - sempre fui estimulado, por minha mãe, a recitar. Horas e horas, passava ela – dedicadamente – a me fazer memorizar inúmeras poesias... algumas, engraçadas; outras, bem sérias; umas, curtinhas; outras ainda, tão extensas que pareciam nunca terminar; muitas, eram até mesmo criadas por ela, que autodidata, tal qual Cora Coralina, experimentava traduzir as satisfações e as amarguras da vida, de uma forma incrivelmente linda.

Assim, o meu gosto pelos poemas – despertado desde cedo – foi crescendo rápido e, já, aos seis anos de idade, aproximadamente, eu ensaiava a minha primeira poesia. É óbvio que o tema escolhido não podia ser outro senão “Minha Mãe”...  e, então, cheio de emoção,  trêmulo, mas  convicto do que queria, eu recitei:

Tem os olhos bem abertos

Pra me ver todos os dias,

Seu coração é coberto

De amor e de alegria.

 

Minha Mãezinha querida,

Me dá muito amor e muito carinho,

Me leva pra passear pelos caminhos...

Foi ela que me deu a vida.

 

Se a métrica e outras considerações literárias não eram lá bem conduzidas, já não se pode dizer o mesmo da inspiração... além do mais, a criatividade e a influência eram indiscutíveis.

Entretanto, na adolescência – época em que o jovem "da época"  buscava outras maneiras de se exibir – ainda que não fugisse tanto a essa regra - coloquei para fora toda a minha “veia poética”, principalmente, ao ser inspirado pelos primeiros amores e pelos “mais cruéis” desamores.

Não é minha intenção escrever uma autobiografia, porém intento relatar, nesse momento, a razão primordial que originou o meu prazer inesgotável de escrever poesias... tão imenso que, em certa oportunidade, acabou por me proporcionar a publicação de uma coletânea de cinco livros de poesia , que denominei de “Realismo... Devaneios”.

Nesse ensaio, busquei promover uma espécie de "explosão" na minha primeira experiência literária... Uma vez que consegui juntar todas as ideias geradas pelas situações prazerosas e aconcheantes com as forjadas pelas circunstâncias angustiantes e assustadoras, num só espaço.

De uma maneira simples procurei, na a publicação de “Realismo... Devaneios”, explorar a emoção dos leitores com os versos líricos, nos quais ressaltei as aventuras e desventuras mais significantes da minha intimidade... Da mesma forma, procurei que encontrassem uma forma de reflexão nas transcrições mais graves, pelas quais revelei a realidade danosa existente em nosso país... Contudo, também busquei promover divertimento, de maneira que conseguissem se deliciar com  as pilhérias perpassadas nas composições jocosas e alegres.

Para atingir esses objetivos, procurei traduzir através das poesias, os mais sutis sentimentos que experimentei...

Tirei proveito das poaixões geradas pelas “musas inspiradoras”... Aproveitei-me das sensibildades criadas pelas belezas de certos lugares... Critiquei os anseios induzidos pelas imperfeições da humanidade... e, Transformei as circunstâncias e situações mais simples, inexpressivas e despretenciosas em motivos  magicos para justificarem a tal realização.

Em verdade, em todos os poemas, eu quis mesmo... foi mostrar... os meus sonhos... os meus desejos...as minhas fantasias... e todos os Devaneios que a Realidade sempre me provocou.

 

 

 

 

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MINHAS PINTURAS

 

 

... E AS OBRAS FORAM SURGINDO

 

Eu havia sido promovido à terceira série do Curso Ginasial e a medalha de ouro em Trabalhos Manuais já não me “enchia” tanto os olhos, como antes... Agora, eu estava mais interessado em mostrar as pinturas que passara a fazer, do que concorrer a qualquer prêmio. Por isso, na exposição dos trabalhos daquele ano, eu aproveitara para me fazer presente outra vez, com um novo porta-retrato - bem maior que aquele coraçãozinho - de formato hexagonal, circundado por folhagens e flores, que fiz em alto relevo com massa corrida endurecida. No centro, pintei o rosto de Jesus Cristo, criado por mim mesmo e apresentando um discreto sorriso, que muito chamou à atenção das pessoas que visitavam à exibição... Não posso deixar de dizer que  os comentários me fizeram envaidecer e começar a me julgar um PINTOR de verdade.

É obvio que o presenteei a minha mãe que, maravilhada com a “Obra Prima”, a ostentava na sala da casa, como se fosse realmente uma grande pintura...

Que eu me lembre, um ano depois, ao mudarmos para Nilópolis, não mais vi a pintura e, ainda que a tenha em minha mente, hoje, já passados sessenta e um anos, não sei realmente onde ela se encontra... diferente do primeiro quadro que pintei na mesma ocasião – uma cópia do famoso quadro “Ângelus”, de autoria do grande pintor francês Jean François Millet, representante do Realismo.

 

     “Angelus” - quadro original de Millet

 

As telas prontas custavam muito caro e o nosso poder aquisitivo era muito pequeno, por isso, meu pai as montava com tecidos que conseguia... e, até mesmo, aproveitando as camisas usadas... E, como bom discípulo, eu também tive que aprender a confeccioná-las do mesmo jeito... e foi, dessa maneira que eu aprontei a tela para a minha primeira experiência como “artista plástico”.

Primeiro, peguei um sarrafo de madeira... fiz a medição corretamente e o cortei em quatro pedaços... esquadrinhei as extremidades e montei o chassi... em seguida, estiquei o pano e o preguei em toda a volta com taxinhas... depois, apliquei uma camada de tinta a óleo branca... no dia seguinte, a tela estava prontinha para ser usada.

Eu queria mostrar que era capaz de pintar.

No entanto, bem mais influenciado que estimulado, eu me vi “obrigado” a fazer a cópia de um quadro que estava estampado em um saco de papel, que recebi de minha mãe. Sequer sabia que tal obra havia sido pintada por um grande pintor e, muito menos, que era uma representação autêntica do movimento Realismo, ressaltando a necessidade de retratar a vida, os problemas e costumes das classes média e baixa.

Usei as tintas que meu pai me dera e fui tingindo o esboço que havia feito na tela... Levei um certo tempo, mas por fim, estava pronto meu primeiro quadro... Mostrei-o a minha mãe, que de pronto o achou maravilhoso e, então, mais uma vez, a ouvi dizer: “Esta pintura está linda... tomara um cego vê-la”.

 

           Cópia de "Ângelus", pintada por mim

 

Ainda que não apresentasse os detalhes perfeitos que o Original ostentava, o meu trabalho não estava tão ruim para um iniciante de treze anos e totalmente  desconhecedor das técnicas e dos processos artísticos... e, por certo, serviu-me para desenvolver novas tentativas.  

O tempo foi passando, ainda que esporádicos, outros ensaios foram efetuados e a satisfação de pintar passou a encher a minha existência de prazer. Entre os trabalhos realizados, devo salientar o que denominei de “Ramalhete” - presente de casamento à minha noiva Darcy... Ainda que repleto de imperfeições, pendurado à cabeceira, tornou o nosso quarto conjugal bem mais aconchegante e romântico.

 

 

 

E, então, levando surras homéricas da inexperiência e da falta de conhecimento, continuei a realizar outros trabalhos... Não posso falar que tais práticas não me tenham servido... seria injusto e inverídico... é importante lembrar que eu fui "iniciado" na pintura, por um excelente autodidata... Por isso,  termino afirmando que todas as vivencias experienciadas serviram-me, não só, como estimulo a estudar com mais profundidade e a buscar entender com mais afinco, mas, sobretudo conseguiram fazer da ARTE a essência da minha vida.

 

 

 

 

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A PRIMEIRA PINTURA

 

Em 1949, estava com 12 anos de idade e era o segundo ano que estudava no Colégio (Externato) São José, frequentando a 2ª série do curso ginasial. No mês de outubro, como no ano anterior, eu me inscrevera no esperado concurso de medalhas das diversas disciplinas escolares - talvez uma preparação para as provas finais programadas para o fim de novembro e princípio de dezembro, que os alunos faziam sem perceberem. Todos os colegas de turma também estavam participando e eu acabei repetindo o feito do ano anterior, conquistando as medalhas de ouro, nas disciplinas de Matemática e Desenho.

Porém, eu acreditara que poderia alcançar o mesmo resultado em Trabalhos Manuais - coisa quase que impossível, uma vez que os trabalhos apresentados eram por demais espetaculares. Tinham abajur, casinhas e oratórios que pareciam verdadeiras miniaturas de catedrais de estilo rococó, minuciosamente montados com peças de madeira compensada recortadas com serrinha tico-tico manual, que mais se assemelhavam à rendas delicadas tecidas pelas mão hábeis dos alunos.

Deduzira que nenhum colega iria apresentar trabalhos de pinturas... E, como eu desenhava relativamente bem desde pequeno, ao contrário da minha habilidade com o arco de serrinha que era muito pouca, resolvi recortar na madeira um modelo de porta-retrato - em formato de coração com dois ramos de flores dos lados - e pintar nele, com a ajuda de meu pai, uma paisagem muito simples, criada por mim mesmo...

Sendo o único trabalho do gênero, acreditava que pudesse receber uma premiação. Ainda que tivesse sido elogiado, não conseguiu suplantar os trabalhos concorrentes e, sequer, auferiu uma Menção Honrosa, recompensa oferecida aos 4º e 5º colocados.

Na ocasião, fiquei decepcionado... Embora, dentro de mim, eu reconhecesse que os outros trabalhos eram bem mais laboriosos, exigindo maior esforço e maior tempo para serem elaborados, além de despertarem mais atenção que um “coraçãozinho” pintado, eu me senti arrasado... completamente derrocado.

Nem mesmo as medalhas que conquistara serviram de consolo... elas eram como uma espécie de obrigação... a pertinente à disciplina de Trabalhos Manuais seria diferente.

Contudo, aquele “coraçãozinho” acabou promovendo uma outra recompensa... ao despertar a minha aptidão artística, fez-me ver que poderia pintar a óleo...pintar quadros, “igualzinho” como o meu pai fazia...

E foi dessa maneira, que dei o primeiro passo no sublime caminho das Artes Plásticas.